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Brasil - Ferro-gusa: o sonho acabou.

Publicada em 2013-06-04



As riquezas de Carajás atraíram muitos empresários ao Pará e Maranhão. Um  grande número deles investiu em dois grandes polos de ferro-gusa: situados em  Marabá/PA e Açailândia/MA. Os empresários estavam, na realidade, adicionando  valor ao minério de ferro que é vendido pela Vale no estado bruto aos  compradores internacionais.

A região de Açailândia recebeu 8 indústrias siderúrgicas: Cosima, Santa Inês,  Margusa, Fergumar, Simasa, Vale do Pindaré, Viena e Gusa Nordeste. Todas  pensavam se beneficiar do ferro de Carajás, da ferrovia Norte-Sul e da ferrovia  Carajás e da excelente infraestrutura local.
Já em Marabá, 10 indústrias siderúrgicas com 21 fornos foram instalados  (Fergumar, Simasa, Usimar, Sidepar, Cosipar, Iberica, Itasider, Maragusa, Viena  e Sinobras ) também atraídas pelo ferro de Carajás e pelo encorajamento da  própria Vale.

Pois esse empreendedorismo todo, que gerou bilhões de dólares de investimentos, dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos, além de faturamentos anuais acima de 1 bilhão de dólares está hoje, sucateado, paralisado e entregue às moscas. Os empresários que tiveram a coragem de investir tem os seus nomes manchados como se fossem criminosos.

 Afinal em que país estamos, que permite essa enorme inversão de valores?

Os principais motivos deste desastre são:

  • A falta de uma política e regras específicas no início das  operações. Se o Governo e a própria Vale obrigassem os guseiros a  ter um carvão ambientalmente correto desde a primeira tonelada de ferro-gusa  as coisas seriam diferentes. Se, ao mesmo tempo os técnicos da Vale e do  Governo informassem aos empresários sobre as restrições e custos  operacionais das plantas de gusa por eles escolhidas, muito dos problemas  que hoje penalizam os empresários não existiriam.
  • Os elevados preços do minério de ferro, a Vale cobra  dos guseiros brasileiros mesmo preço usado para a exportação.
  • Carvão, meio ambiente e plantas obsoletas. A maioria  dos guseiros construíram plantas, bastante baratas e obsoletas que usavam  somente o carvão vegetal. SE essas plantas pudessem operar também com o  coque os problemas que eles enfrentaram para obter carvão vegetal não  aconteceria. Com o passar do tempo as notícias de desmatamentos para a  fabricação do carvão se espalhou pelo Brasil e mundo e a Vale começou a  vender minério somente para as empresas que tinham um carvão com selo do  IBAMA. Por falta de planejamento poucas empresas se qualificavam e a maioria  teve que comprar carvão a preços elevados e iniciar a produção própria de  carvão a partir de eucaliptos que tem um ciclo de 5 anos. Este período que  elas trabalharam com o carvão não certificado gerou um passivo ambiental que  só foi negociado com a SEMA em 2012. A solução adicionou novos custos aos já  combalidos guseiros.
  • Falta de minério próprio: as guseiras por não terem  minas próprias ficaram atreladas à Vale e não puderam sobreviver. Muitas  tentaram de tudo para sobreviver, até lançar nos seus fornos lateritas com  alto teor de água o que pode causar crepitação e prejuízos.

Hoje, graças a vários fatores listados praticamente todas as guseiras do Pará  e do Maranhão ou foram fechadas ou estarão sendo fechadas nos próximos dias. O  custo da produção do ferro-gusa é maior ou igual ao preço praticado pelo mercado  que é de US$450/t

O trágico é que o ferro-gusa pode ser produzido a menos de US$170/tonelada o que permite uma lucratividade excelente.

Para conseguir essa "mágica" é necessário um bom assessoramento técnico,  plantas modernas, minério de ferro próprio e carvão vegetal próprio. É realmente  uma desgraça que a população local e esses guseiros, empresários, empreendedores  brasileiros que foram enfrentar a Amazônia buscando adicionar valor ao minério  de ferro, que a Vale vende no estado bruto por uma ninharia no mercado  internacional, sofram essa imensa derrota e se encontrem, hoje, totalmente  desamparados pelo Governo tendo que amargar imensos prejuízos.


Fonte: Geólogo