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Cenário muda e setor automotivo Brasileiro desacelera
Publicada em 2014-09-16
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O fraco desempenho da economia brasileira aliado ao colapso das vendas para a Argentina pegou a indústria automobilística no contrapé. Entre 2008 e 2012, as empresas investiram R$ 45 bilhões em novas fábricas e na expansão de unidades existentes, contrataram 26,4 mil trabalhadores e elevaram a capacidade instalada da indústria em 16%, para 4,5 milhões de veículos por ano. Mas o cenário se inverteu, a demanda interna caiu e as exportações desabaram. Resultado: estoques em alta e funcionários demitidos.
O quadro desfavorável do setor, cujos sinais começaram a aparecer no fim de 2013 com a restrição no crédito e menor disposição do brasileiro de ir às compras, se tornou mais agudo no segundo trimestre deste ano, quando a atividade da indústria atingiu os piores níveis desde 2010. Até agosto, a produção de veículos havia caído 18% em relação a 2013; as exportações, 38%; e 8,7 mil funcionários foram desligados. Os estoques chegaram a 42 dias - um número considerado elevado para a indústria.
"O setor passa por um momento de desaceleração. Nos últimos dez anos, com o aumento da renda e mobilidade das classes sociais, as vendas do segmento cresceram a uma média de 10% ao ano enquanto a economia avançava 4%. Foi um resultado bem positivo", explica o economista da Tendências Consultoria Integrada Rodrigo Baggi, especialista no setor automotivo e de bens de capital. A reversão do cenário, com menos apetite do brasileiro, ocorre num momento em que os projetos iniciados no passado começam a entrar em operação, ampliando a oferta.
Pelos dados da Tendências, o setor opera hoje com uma ociosidade de 40%, praticamente o dobro do que ocorria nos tempos de consumo em alta. Com menos produção, as empresas reduziram o quadro de funcionários e diminuíram os turnos de trabalho. O Grupo PSA Peugeot Citröen, por exemplo, deu lay-off para 650 trabalhadores e depois adotou um Plano de Demissão Voluntária. Até fevereiro, a empresa produzia veículos no Centro de Produção de Porto Real (RJ) em três turnos. "Mas, com a necessidade de adequar a produção às vendas internas e às exportações, atualmente estamos operando com dois turnos", diz a diretora de Comunicação e Relações Externas para América Latina da empresa, Fernanda Villas-Bôas. Ela afirma que o grupo já concluiu 70% do plano de investimento de R$ 3,7 bilhões para o período 2010-2015.
A Nissan inaugurou sua fábrica de R$ 2,6 bilhões em Resende, no Rio de Janeiro, em abril. Com 1,8 mil funcionários e capacidade para produzir 200 mil veículos e motores por ano, a empresa suspendeu, na semana passada, o contrato de trabalho de 279 funcionários da fábrica. O presidente da empresa François Dossa acredita que a retomada da atividade na indústria só ocorra em 2016. "Sabemos que este e o próximo ano devem ser anos de ajustes nas vendas. Mas investimos pensando nos próximos 20 anos."
De qualquer forma, Dossa acredita que é o momento de retomar questões primárias como a disponibilidade de energia, logística e carga tributária. "Várias fábricas se instalaram no Brasil nos últimos anos e outras vão chegar. Agora, precisamos de uma política para que essa nova capacidade não seja um investimento em vão."
Estímulos
A indústria automobilística responde por 4,9% do Produto Interno Bruto. Em 2010, a fatia era de 5,1%. Isso explica por que o governo sempre olhou com cuidado o desempenho da setor e, diante de qualquer sinal de desaceleração, procurou incentivar a produção com redução de impostos e políticas setoriais. No auge da crise internacional, no fim de 2008, quando o mercado de crédito mundial foi abalado e a liquidez diminuiu drasticamente, o pátio das montadoras lotou. Como resposta, o governo do ex-presidente Lula reduziu impostos para a compra de carro e, assim, estimulou o consumo.
Até então, a década tinha sido positiva para o setor. O forte crescimento na produção de veículos era explicado pela expansão da renda e do crédito para todas as classes sociais - não somente para a classe C, a chamada nova classe média. "As duas classes (A e B) representam 45% da renda do País e 70% da demanda de automóveis. Por isso, são público-alvo das montadoras", afirma Baggi, da Tendências.
Na opinião do ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, sócio da Barral MJorge consultoria, a solução para o momento atual da indústria automobilística, com base nos investimentos feitos e anunciados, é ter um programa agressivo na exportação. "É preciso diversificar os países, diminuir o custo de produção no Brasil, gerar incentivos de exportação e manter acordos internacionais." Mas esse também não será um caminho fácil. Nos últimos anos, a indústria automobilística ficou muito dependente do comércio com a Argentina.
Em 2000, o país comprava 25% das exportações brasileiras de veículos, de acordo com um levantamento da Fundação Centro de Estudos para o Comércio Exterior (Funcex). Na época, o mercado era relativamente bem dividido: na sequência apareciam Estados Unidos (19%) e México (16%). No ano passado, a Argentina foi responsável por 59% das compras, enquanto os mexicanos e americanos tiveram a fatia reduzida para 7% e 5%.
Em 2013, o setor chegou a ser beneficiado pelo aumento das exportações entre 12% e 15%. "A Argentina impõe algumas restrições no mercado de divisas e isso contribui para transformar o automóvel em reserva de valor. Esse é um dos principais motivos da evolução na compra de produtos brasileiros ao longo dos últimos anos", diz Daiane Santos, economista da Funcex.
Mas, neste ano, a piora da crise do país vizinho e o aumento das restrições para importação causaram um baque no setor. Na semana passada, a General Motors anunciou que vai parar as exportações para a Argentina. Em nota, a empresa afirmou que, no momento, está priorizando a importação de componentes para abastecimento de sua linha de produção em vez de importar veículos prontos, pois o estoque atual é suficiente para o ritmo de vendas do mercado local.
Fonte: O Estado de São Paulo
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