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Montadoras brasileiras importam chapas de aço da Coreia e da China.

Publicada em 2010-12-02



O mesmo dólar barato que mina no exterior a capacidade de competição do carro brasileiro no mercado interno serve de arma para as próprias montadoras recorrerem com mais frequência às chapas de aço importadas da China e da Coreia, como parte da estratégia de reduzir custos de produção. O avanço da matéria-prima importada nas fábricas de automóveis se tornou “uma questão de competitividade”, alega o presidente da Fiat para a América Latina e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini. A montadora de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estaria concluindo neste mês a compra de cerca de 20 mil toneladas de chapas, parcela final dos contratos firmados neste ano. A operação, no entanto, não foi confirmada pela empresa, que se limita a informar que o percentual de importações ainda é “pequeno”.

A Volkswagen também tem recorrido aos preços mais baixos das chapas de aço importadas. Em meados do ano, o presidente da companhia, Thomas Schmall, afirmou que a empresa deve fechar 2010 com uma participação de 30% de aço estrangeiro nas suas linhas de produção. Esse percentual era de 10% no ano passado. As políticas das montadoras afetam em cheio fornecedoras como a Usiminas e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Há estimativas de que as chapas chinesas e coreanas são ofertadas a preços 40% menores frente ao produto nacional. A diferença é atribuída pelo Instituto Aço Brasil (antigo IBS) e por executivos das siderúrgicas à mistura de vantagens fiscais e cambiais que os concorrentes recebem e o pesado Custo Brasil, em especial à alta carga tributária e à deficiência da infraestrutura no País, que encarecem o produto nacional.

O presidente da Fiat, Cledorvino Belini, ouviu na terça-feira do governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, a afirmação de que o risco de desindustrialização do setor siderúrgico preocupa. “Desejamos sempre que a nossa política econômica acolha essa indústria nacional, sem protecionismo exagerado, sem mecanismos ultrapassados, mas que dê, claro, competitividade à nossa indústria”, disse. A disparada das importações de aço, segundo Anastasia, é o caso mais emblemático estimulado pela sobrevalorização do câmbio no Brasil. Só em outubro, estatística mais recente do IABr, as importações de aços planos (usados na indústria automobilística) cresceram 375% frente ao mesmo mês do ano passado, somando 483,6 mil toneladas.

Aumento

Contabilizadas desde janeiro, as compras de aços planos no exterior aumentaram 181,42%, ao atingir 3,434 milhões de toneladas. Esse material atende às montadoras e à rede de distribuição de aço. O presidente executivo do IABr, Marco Polo Mello Lopes, lembra que o que tem freado as importações das montadoras é o sistema eficiente dos fabricantes nacionais do chamado just in time, o fornecimento em tempo real às linhas de produção. “Estamos criando um artificialismo no País, com as importações, e quem se beneficia das margens de preços não é o consumidor brasileiro e sim os importadores”, diz o executivo. Cerca de 60% do peso do automóvel correspondente à chapa de aço, o que mostra que a matéria-prima é fundamental na definição dos preços ao consumidor final, os quais não têm acompanhando as compras mais competitivas da indústria no mercado internacional.

De acordo com Belini, presidente da Anfavea, quem define os preços do carro “é o mercado”. As siderúrgicas negociaram com o governo federal medidas para conter a penetração dos importados como a valoração aduaneira, pediram dura fiscalização contra o subfaturamento e as fraudes e apelaram para medidas antidumping. “Precisamos decidir qual país a gente quer ter”, alega Marco Polo Lopes. Nas contas da siderurgia brasileira, o produto chinês leva vantagem de 70% só na política cambial do gigante asiático. O presidente da Usiminas, Wilson Brumer, tem alertado que o País deve encerrar o ano com volumes de importação de aço, estimados em 5 milhões de toneladas este ano, equivalentes a toda a produção da usina de Ipatinga, no Vale do Aço mineiro.


Fonte: Estado de Minas