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Porque os chineses são os mestres do custo competitivo
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É preciso passar um tempo na China para compreender que os negócios terão uma nova dinâmica a partir do protagonismo deles em todos os setores, de roupas a artigos esportivos, de celulares a câmaras de vigilância, da corrida ao espaço ao futuro da sustentabilidade. E o universo automotivo não vai fugir desta lógica.
Aquilo que a indústria ocidental almeja há décadas, e enfatiza principalmente em períodos de crise, mas em poucos locais encontra condições ideais, é um dos pilares da indústria chinesa: o custo de produção, que lá é imbatível. Isso tem a ver, dentre outros fatores com o ambiente de negócios regulado pelo governo, com o volume de produção, outro pilar definido pelos empresários chineses como essencial na tomada de decisões de investimentos.
A China é hoje o maior mercado consumidor do planeta. O último dado, de 2024, apresenta uma classe média com renda anual de US$ 15 mil a US$ 75 mil, em torno de 400 milhões de pessoas. E de acordo com o que disse Li Qiang, primeiro-ministro chinês, no Fórum Econômico Mundial no ano passado, espera-se que a classe média dobre em uma década.
Por isto basta visitar a China e conversar com os executivos das empresas fabricantes para compreender a consolidação de um cenário com boas possibilidades de apurar lucro. E este desempenho, na visão deles, tem potencial de continuar crescendo ano a ano.
Rápida evolução e o exemplo do Brasil
O que acontece agora no setor automotivo chinês é reflexo da globalização da década de 1990, que catapultou sua indústria e agora deixa o resto do mundo numa saia justa, pois seus veículos atingiram padrões de qualidade e de design estabelecidos pela indústria tradicional, além de custos mais competitivos, principalmente nos veículos eletrificados.
Desta forma projetos de internacionalização da produção chinesa só acontecerão integralmente quando os pilares estiverem alinhados com o que passa ser a referência. É bom que se saiba: por enquanto não há qualquer razão para um movimento forte de internacionalização integral das marcas chinesas. A conta é simples: não há boné, tênis, processador de dados, baterias, telas de silício, malas de viagem e até massageador para as costas feitos em grandes volumes fora da China.
Mesmo assim temos no Brasil bons exemplos dos primeiros passos da indústria automotiva chinesa fora do seu país. Mas não esperem os ocidentais que eles jogarão este jogo de acordo com as suas regras antiquadas. O mundo mudou e agora é a vez de os chineses darem as cartas.
Não faz o menor sentido para eles nacionalizar uma operação completa de produção para qualquer outro lugar, por isto vemos as empresas que estão chegando importando kits montados ou desmontados de seus produtos. Fabricantes que não contam com a participação do governo da China em seus negócios são, neste momento, as mais interessadas em internacionalizar sua operação, diversificando seus ativos e construindo uma imagem fora do seu país. Há tecnologia de ponta envolvida neste processo, os produtos são realmente muito bons e os preços devem ser competitivos.
Mas enquanto o custo permanecer imbatível será improvável um carro chinês feito em sua maioria com autopartes nacionais.
Jack Wei, um dos empresários mais bem-sucedidos na China, com fortuna estimada em US$ 12 bilhões, faz parte de uma família que construiu diversas empresas do ramo metal-mecânico e de autopartes, além da GWM. Após a privatização no fim dos anos 1990 ele se tornou o chairman da GWM e expandiu a operação criando diversas marcas e posicionando a empresa no meio das dez maiores fabricantes chinesas, com pouco mais de 1 milhão 230 mil unidades vendidas no ano passado.
Durante conversa com a imprensa internacional no seu estande, em Shangai, Wei se referiu diversas vezes ao custo de produção como valor principal do seu negócio. Ele construiu sua reputação na China vendendo picapes e SUVs de boa qualidade a preços acessíveis.
Jornalistas europeus e sul-americanos insistiram no tema da localização da produção em seus países, numa lógica claramente ocidental ultrapassada que só faz sentido gerar valor produzindo tudo em seus países, mas Wei foi enfático: “Os pilares de custo altamente competitivo, volumes que justifiquem investimentos e lucratividade da operação, serão inegociáveis na China e em qualquer outro lugar. Só assim as empresas criam condições para prosperar”.
A GWM começa a produzir em sua fábrica no Interior do Eestado de São Paulo a partir de kits CKD importados da China em setembro e tem planos firmes de aumentar a localização das partes de seus veículos para 35% a 40% no prazo de dois anos.
Outra empresa chinesa novata, com apenas dez anos de existência, recebeu aporte da tradicional Stellantis e está criando um modelo de negócios que poderá ser uma tendência daqui em diante: utilizar a experiência de empresas já estabelecidas em mercados estratégicos e vender seus produtos chineses com este apoio logístico e de atendimento ao cliente.
A Leapmotor começa a importar seus veículos, iniciando uma operação comercial no Brasil, a partir de setembro. E seu fundador, Zhu Jiangming, também em conversa com a imprensa internacional, contou que a lucratividade tem a ver com o controle rígido dos custos de produção: “Esse é um dos segredos da Leapmotor. Mais de 65% das partes dos nossos veículos são produzidos internamente”.
Jiangming não descartou a possibilidade de, no futuro, produzir no Brasil ou em outra região. Mas mesmo com o suporte da parceria bilionária da Stellantis só acontecerá se os custos em qualquer outro país forem iguais ou superarem os da China.
E a cadeia de fornecimento?
Durante o Auto Shanghai 2025 o pavilhão menos movimentado foi o dedicado a fornecedores da cadeia automotiva, que estavam ali dando prioridade para fazer negócios com as empresas chinesas. E estas conversas foram pautadas considerando esta premissa da indústria chinesa.
Dois exemplos são as empresas Skyworth e Neusoft. Suas operações não se originaram na indústria automotiva: a Skyworth começou fazendo aparelhos de televisão e a Neusoft surgiu nos laboratórios de uma universidade chinesa que desenvolvia tecnologia de escaneamento para o setor de saúde.

Hoje a Skyworth é um dos principais fornecedores de telas automotivas na China, tendo praticamente todos os fabricantes locais como seus clientes. Estava no Auto Shanghai para mostrar aos seus clientes locais novas possibilidade de telas curvas com tecnologia de ecrã de próxima geração e múltiplas camadas de alto desempenho, proporcionando melhor contraste, ângulos de visão, brilho excepcional e qualidade de imagem.
A Neusoft já é uma gigante da tecnologia da China e no Auto Shanghai apresentou todas as suas soluções de integração da inteligência artificial aos sistemas automotivos. Espera-se, para muito breve; a utilização da IA não apenas no GPS ou no infoentretenimento dos veículos mas em todos os outros sistemas eletrônicos.
Conversando com expositores nestes estandes a explicação para avanço tão grande e tão rápido, atuando em diversos setores da indústria local, tem relação com os custos baixos para aplicação de novas tecnologias em larga escala. Esta é a lógica que os chineses levarão à risca daqui em diante e a indústria ocidental terá que encontrar uma forma de atender as premissas dos novos grandes players globais. Porque se tem algo que o chinês sabe fazer muito bem é conta.
Fonte: Autodata
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