A duplicação da tarifa de importação dos EUA derrubou a produção de placas e afetou vendas internas, exportações e importações de aço no Brasil.
A indústria siderúrgica brasileira registrou números preocupantes em agosto de 2025. A produção de aço bruto caiu 4,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior, totalizando 2,86 milhões de toneladas métricas, segundo dados do Instituto Aço Brasil. No acumulado de janeiro a agosto, foram produzidas 22,2 milhões de toneladas, queda de 1,5% em relação a 2024.
Colapso silencioso? Produção de aço no Brasil despenca em agosto com impacto dos EUA
O peso das tarifas dos EUA
O principal fator que explica a retração foi a queda de 21% na produção de placas de aço, que despencaram para 591 mil toneladas em agosto. Esse tipo de produto semiacabado, essencial para laminadores, perdeu espaço após a decisão dos Estados Unidos de duplicar a tarifa de importação de aço para 50%, em vigor desde junho. Os EUA são o principal destino das placas brasileiras, e a medida praticamente paralisou o comércio bilateral nesse segmento.
Exportações redirecionadas
Para minimizar as perdas, as siderúrgicas brasileiras redirecionaram as exportações para a América Latina. Como resultado, as vendas externas de placas cresceram para 687.985 toneladas em agosto, contra 662.715 no ano passado. No geral, as exportações de aço aumentaram 4%, alcançando 860.700 toneladas no mês.
Vendas domésticas em baixa
Enquanto isso, o mercado interno mostrou fraqueza. As vendas de produtos laminados caíram 5,8% em relação ao ano anterior, somando 1,8 milhão de toneladas. O recuo mais expressivo foi no segmento de aços longos, usados em obras e construção civil, com queda de 8%. Esse cenário reflete a combinação de custos elevados, retração da demanda e incertezas no setor da construção.
Importações em forte queda
As importações também sofreram: caíram 24%, para 491 mil toneladas em agosto. A participação do aço importado no mercado brasileiro encolheu de 20% para 16%. Entre os produtos mais afetados estão os aços revestidos, com queda de quase 39%, e os aços longos, que despencaram 54,6%.
Panorama da indústria
O desempenho negativo se estendeu a outras categorias. A produção de aços planos laminados caiu 5,1%, enquanto os longos tiveram retração de 6,1%. O ferro-gusa, essencial para a siderurgia integrada, recuou 3,7%. Por outro lado, houve leve alta na produção de lingotes, blocos e tarugos, com crescimento de 29,6%, sinalizando ajustes pontuais na estratégia de produção.
O que esperar
Especialistas apontam que a recuperação dependerá de negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos e da retomada da demanda interna. A incerteza global no setor de metais, somada ao impacto cambial e ao cenário econômico, deve manter a indústria em alerta nos próximos meses. O Instituto Aço Brasil reforça que o país tem buscado diversificação de mercados para reduzir a dependência de exportações para os EUA, mas admite que os efeitos das tarifas ainda serão sentidos por mais tempo.