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Terras raras, um negócio da China?

Publicada em 2011-04-26



“Se os árabes têm petróleo, a China tem terras raras”. Lendas urbanas creditam essa frase a Deng Xiao Ping, líder político chinês entre 1978 e 1992. Fato é que hoje a China domina o mercado mundial dessas “terras raras”, como é chamado o conjunto de 17 elementos químicos, utilizados para aplicação em alta tecnologia, como a dos ímãs que transformam energia elétrica em energia mecânica e em produtos high tech como notebooks, telefones celulares, trens-bala, iPods, fibras óticas e painéis solares.

O mercado dos 17 elementos químicos individualizados é da ordem de US$ 5 bilhões anuais e, mais que isso, é estratégico. O significado da palavra estratégico ficou muito claro em 2010, quando a China anunciou que imporia cotas de exportação destas terras raras, jogando os preços para o céu, e, de forma mais chocante, ameaçou não mais entregá-las para o Japão, depois de uma escaramuça de fronteira marítima.

Tratou-se de um claro perigo à supremacia japonesa em produção de carros híbridos, cuja tração elétrica baseia-se nos superímãs de terras raras, e objetos de alta tecnologia. O disparo dos preços foi extremo.

O domínio chinês não se refere somente ao baixo custo da mão-de-obra. A China detém mais de 50% das reservas mundiais de terras raras. Ou melhor, detinha. Em novembro de 2010 a US Geological Survey, a agência científica dos Estados Unidos, publicou artigo que indica que a maior reserva de terras raras é, muita atenção, brasileira. A fonte da informação da US Geological Survey foi um breve resumo de um brasileiro, nos anais de um Congresso Internacional de Geologia de 1996.

Agora em 2011, com os preços onde estão, o mundo todo se anima. Americanos anunciam investimentos de US$ 100 milhões para reativar sua maior mina. Australianos falam em números maiores. Sobra alguma chance para o Brasil?

Normalizados os preços, é possível viabilizar no território brasileiro empreendimentos de mineração que produzam concentrados de terras raras. Mas isso vale pouco. Separar as terras raras em cada um dos elementos agrega bastante valor, mas exige tecnologia química especial, resinas importadas... enfim, custa caro. Vale a pena? A estratégia chinesa foi ocupar frações cada vez maiores da cadeia produtiva. Hoje a China não quer mais exportar superimãs, quer exportar motores elétricos que os usam. Aqui se configura uma oportunidade particular e de extrema relevância para o Brasil.

Desenvolver as tecnologias da cadeia produtiva das terras raras coloca grandes desafios para a tecnologia nacional. E isso é ótimo. Dentre algumas iniciativas nessa direção já se destaca uma articulação entre a Fundação Certi, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o Centro de Tecnologia Mineral.

É preciso levar em conta que há cerca de 30 o Brasil investiu nessa cadeia, mas os baixos preços chineses inviabilizaram todas as iniciativas. É possível retomar o projeto, mas é necessário um plano de mais longo prazo, resistente às intempéries do mercado e das estratégias de outras nações. É hora de agir, de maneira consistente.

 


Fonte: Diário de Marília