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Como o Brasil pode ser atingido pelas tarifas do governo Trump?

Publicada em 2025-01-24



Após dois dias no cargo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retomou promessas de campanha e afirmou que pretende impor tarifas sobre exportações de México, Canadá e China a partir de fevereiro. E como é que o Brasil fica nessa história?

O diretor da Moody's Analytics, Alfredo Coutiño, calcula que Trump deve impor tarifa de 5% sobre produtos do Brasil, e isso pode trazer impactos para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano.

"O Brasil deve desacelerar o crescimento da economia em 2025, quando deve expandir 2,0%, devido ao impacto às suas exportações de tarifas adotadas pelos EUA e pela desaceleração do crescimento da China provocada pelas tarifas impostas pelos EUA", disse Coutiño.

Além do PIB, o especialista também prevê impacto sobre o real, uma vez que a moeda brasileira pode se enfraquecer perante o dólar caso o custo para vender produtos aos EUA aumente.

Já para analistas do Bradesco, uma tarifa de 10% dos EUA sobre produtos brasileiros causaria um impacto de US$ 2 bilhões na balança comercial do Brasil, com risco de depreciar o real em 4% ante o dólar. Caso a tarifa seja mais agressiva, de 25%, o efeito negativo sobre as exportações brasileiras atingiria US$ 5,5 bilhões.

Para analistas do Citi, o México é o país da América Latina mais exposto às possíveis políticas tarifárias de Trump, mas "o Brasil também está vulnerável", pois possui uma balança comercial negativa em relação aos EUA - isto é, importa mais do que exporta produtos.


O que Trump falou sobre tarifas ao Brasil?

A única citação de Trump ao Brasil em relação a tarifas ocorreu durante coletiva de imprensa em 16 de dezembro do ano passado. Na ocasião, o presidente eleito americano citou Brasil e Índia como países que "taxam demais" produtos importados e disse que "quem nos taxar, taxaremos de volta".

O governo brasileiro tem uma visão mais otimista em torno do tema. Em entrevista ao Broadcast no início de janeiro, a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Tatiana Prazeres, afirmou convicção de que as exportações brasileiras não são alvo preferencial da nova administração Trump.

Prazeres argumentou que o comércio Brasil-Estados Unidos é um "ganha-ganha", e que é preciso desmistificar a diferença de perfil tarifário entre os dois países, já que as trocas bilaterais revelam uma realidade diferente das médias tarifárias.

Embora o Brasil imponha um imposto de importação médio de 11,2% sobre os produtos que chegam de fora - enquanto nos EUA esse patamar é de 3,3% -, o que desembarca dos americanos aqui é com frequência tributado abaixo da média ou sem nenhum imposto em função do perfil das compras.


"E, na prática, produtos que são muito relevantes para o Brasil no mercado americano têm tarifas muito altas, por exemplo açúcar, carne bovina, carne de aves, suco de laranja, frutas, óleo de soja, tabaco, cachaça, o setor siderúrgico", listou.

Quais devem ser os setores mais afetados por tarifas?

A promessa de elevação de tarifas por Trump deve aumentar as restrições para as exportações brasileiras não apenas de produtos siderúrgicos, mas possivelmente também de sucos e de carnes. A avaliação é do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

"Nesse cenário, além de produtos de siderurgia, lobbies protecionistas podem demandar restrições para sucos e carne", afirma o relatório.

No caso de petróleo, ainda não ficou claro se a promessa de Trump de aumentar a exploração da commodity no território americano será acompanhada de restrições ao produto importado. De qualquer forma, "a imprevisibilidade de Trump cria um cenário desfavorável para as transações comerciais", aponta o Ibre/FGV.

  • No ano passado, as principais commodities brasileiras exportadas para os Estados Unidos foram: o petróleo bruto (participação de 14% no total das exportações brasileiras para o país); semimanufaturados de ferro ou aço (8,8%); café (4,7%); óleos combustíveis (4,3%); celulose (4,2%); ferro gusa (4,4%); sucos (3%) e carne (2,3%).


Fonte: investalk.bb.com.br