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A descoberta acidental que revelou a maior mina de ferro do mundo no coração da Amazônia
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Brasil tem uma província com 18 bilhões de toneladas de ferro de alta pureza — e ela foi achada por acaso num pedaço esquecido da selva
Um pouso forçado no meio da selva, um geólogo curioso e uma pedra avermelhada bastaram para revelar um dos maiores segredos minerais do planeta: a Serra dos Carajás. Embaixo daquela floresta densa, escondia-se uma província com 18 bilhões de toneladas de ferro de altíssima qualidade — e isso mudaria para sempre o destino da mineração no Brasil e no mundo.
Tudo começou com um erro de navegação
O ano era 1967. A ditadura militar incentivava projetos de exploração econômica na Amazônia, e a empresa US Steel, por meio da subsidiária Meridional Mineração, sobrevoava a região com geólogos em busca de novas jazidas. Durante uma tempestade, o helicóptero que levava o geólogo brasileiro Breno Augusto dos Santos desviou de rota e acabou pousando numa clareira próxima a uma formação arqueada.
Foi ali, quase por acaso, que Breno notou rochas avermelhadas incomuns e decidiu coletar amostras. O laboratório confirmou: era minério de ferro com mais de 60% de pureza, um índice raríssimo. Era o início da lenda de Carajás.
Hoje conhecido como Projeto Carajás, esse complexo de mineração fica no sudeste do Pará e é operado pela Vale. A jazida principal, a Serra dos Carajás, é considerada a maior do mundo em teor de ferro. Mas a grandiosidade não para por aí: o projeto conta com minas a céu aberto, uma ferrovia de 892 km — a famosa Estrada de Ferro Carajás — e o Terminal de Ponta da Madeira, no porto de São Luís (MA), de onde o minério segue para países como China, Japão e Coreia do Sul.
Além do ferro, a região também é rica em ouro, cobre, manganês e outros minerais estratégicos. Segundo a própria Vale, o complexo produziu em 2023 cerca de 230 milhões de toneladas de minério, equivalente a quase um terço de toda a produção nacional.
O poder da ferrovia e dos navios gigantes
Para escoar tamanha produção, foi construída a Estrada de Ferro Carajás, uma das mais eficientes do mundo. Por ela circulam trens de 3,3 km de comprimento, com até 330 vagões, transportando até 39 mil toneladas de minério por viagem. São 10 viagens por dia, abastecendo o porto maranhense onde o minério é embarcado em navios Valemax — os maiores mineraleiros do planeta, com 362 metros e capacidade para 400 mil toneladas.
O destino mais comum? A China, onde empresas como a Baowu Steel, maior siderúrgica do mundo, dependem do ferro de Carajás para manter sua produção.
A Serra dividida em três
O projeto se desdobra em três frentes principais:
- Serra Norte: ativa desde os anos 1980, concentra minas como a N4E, N5 e N5 Sul, com cavas que atingem 300 metros de profundidade.
- É lá que estão as maiores reservas de ferro do planeta, com teor de 66% a 67%.
- Serra Sul: abriga o S11D, maior projeto da história da Vale, com tecnologia de extração sem uso de água (processo seco), o que reduz em 93% o consumo hídrico.
- Serra Leste: menor, mas estratégica. Produz 10 milhões de toneladas por ano com teor de 64%.
Impactos sociais e ambientais
Se por um lado Carajás virou um motor econômico, com R$ 33 bilhões em exportações de ferro só em 2022, por outro, deixou cicatrizes. O desmatamento provocado pela mineração e pela ferrovia contribuiu com a perda de 469 mil km² de vegetação entre 1988 e 2021, segundo dados do INPE.
Além disso, a ferrovia atravessa terras indígenas e áreas protegidas, gerando conflitos com comunidades locais. Houve ainda denúncias de vazamentos de rejeitos, como em 2023, quando o IBAMA multou a Vale por poluição no Rio Paraupebas.
Aposta no “ferro verde”
Tentando reduzir a pegada ambiental, a Vale agora investe em ferro de baixo carbono, usando carvão vegetal de reflorestamento. Também está testando caminhões autônomos, trens elétricos e ferramentas de monitoramento via satélite para evitar novos desmatamentos.
“Queremos ser líderes na mineração sustentável e garantir que a Vale seja carbono zero até 2050”, declarou o presidente da empresa em nota oficial.
Um tesouro geológico de bilhões de anos
A Serra dos Carajás não é apenas rica em minério. É também uma relíquia geológica. Suas formações datam de mais de 2,5 bilhões de anos e abrigam cavernas com fósseis únicos, lagos isolados e espécies endêmicas que não existem em nenhum outro lugar do mundo.
Um paradoxo entre riqueza e responsabilidade
Carajás é um exemplo poderoso de como a exploração de recursos pode transformar a economia de um país, mas também um alerta sobre os limites do crescimento a qualquer custo. O Brasil depende do ferro para suas contas externas, mas o mundo exige cada vez mais mineração com responsabilidade climática e social.
A história que começou com um pouso de emergência agora continua sendo escrita com tecnologia, conflitos e bilhões em jogo. E tudo isso, bem no coração da floresta que deveria ser intocável.
Fonte: clickpetroleoegas.com.br
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