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Brasil - Real forte leva indústria de ferro gusa a paralisar fornos.

Publicada em 2011-08-21



A lenta recuperação dos produtores de ferro gusa, que desde 2008 operam com alta ociosidade, sofreu mais um baque com as incertezas geradas com a nova crise que abalou os mercados europeus. Embora ainda não se tenha conhecimento exato do potencial da crise no Brasil, guseiros mineiros voltaram a abafar seus altos-fornos nas últimas semanas. Hoje, dos 106 equipamentos distribuídos em 63 usinas no Estado, 25 estão inativos. Em Minas, onde o setor está concentrado em Sete Lagoas e Divinópolis, as exportações respondiam por 50% da produção, participação que hoje é de 25%. No Pará, outro polo produtor de gusa, dos 22 altos-fornos, apenas 7 estão em operação.

ferro gusa
Usina de gusa: 106 altos-fornos podem ser reativados em Minas Gerais até o final do ano.

O parque guseiro de Minas Gerais possui uma capacidade instalada de 6,2 milhões de toneladas anuais. Em 2010, ainda mergulhado em crise, o setor produziu 3 milhões de toneladas. Como a conjuntura econômica apontava para recuperação, vários altos-fornos que estavam abafados foram reativados. Para este ano, a previsão inicial era de produzir 1 milhão de tonelada a mais do que no ano anterior.

“Ainda não sabemos a dimensão da crise e não queremos antecipá-la. No entanto, dificilmente a Europa vai reagir no curto prazo. A esperança é um crescimento maior da economia americana e a expansão do mercado asiático”, afirmou o presidente do Sindicato da Indústria do Ferro de Minas Gerais (Sindifer-MG), Fausto Varela Cançado. No caso dos estados Unidos, o gusa brasileiro ainda concorre com a sucata.

Entre o final de 2008 e início de 2009, a crise financeira internacional encolheu o mercado para os produtores de gusa de Minas, que exportam para os Estados Unidos, países da Europa, Japão e outros países da Ásia. Com o arrefecimento da demanda, os preços praticados no mercado externo despencaram. No pré-crise de 2008, a tonelada de ferro gusa chegou a um teto de US$ 800 para exportação, mas caiu para valores próximos de US$ 200 com a retração econômica.

Tonelada está cotada a US$ 500 em 2011

Este ano, desde janeiro, o cenário é de estabilidade, com a tonelada cotada a cerca de US$ 500. A valorização do real frente ao dólar, porém, minou a competitividade das vendas no exterior.

O ferro gusa é utilizado no processo de produção de aço. Sendo assim, além da derrubada de preços do produto no mercado externo, a entrada de aço importado no Brasil, movimento que ganhou força em 2010, também impacta diretamente, reduzindo o mercado interno. Embora as taxas de penetração do aço estrangeiro no Brasil tenham diminuído, as sobras de aço no mundo, estimadas em mais de 500 milhões de toneladas, ainda inibem uma retomada mais forte da siderurgia nacional, que teria capacidade de reerguer também os produtores de gusa.

Os produtores de gusa ainda enfrentam as altas de custos que afetam todo o setor siderúrgico, corroendo as margens de lucro. O minério de ferro e o carvão se valorizaram muito, especialmente em 2010. Neste cenário, os produtores de gusa do Pará iniciaram a produção guseira com minério próprio. Naquele estado, 22 altos-fornos estão instalados, mas atualmente apenas 7 estão ativos.

“Já temos uma usina que trabalha com minério próprio, e em 120 dias outra (a Maragusa) vai entrar em operação. Com as margens de lucro muito baixas, esta é uma alternativa para se manter no segmento”, disse o diretor do Sindicato das Indústrias de Ferro Gusa do Estado do Pará (Sindiferpa), Zeferino Abreu Neto, que também é sócio da Maragusa.

No Pará, 100% da produção é direcionada para os Estados Unidos. O parque tem capacidade para 2,6 milhões de toneladas de gusa ao ano. Desde 2008, mais de 4 mil trabalhadores foram demitidos no Pará en função da ociosidade dos altos-fornos. “Com o câmbio desfavorável e o preço reagindo pouco, ficamos muito suscetíveis as crises externas”, disse Abreu neto.

Bruno Porto - Do Hoje em Dia - 19/08/2011

 


Fonte: Hoje em Dia