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Nem pau e nem pedra, talvez o fim do caminho para o gusa.
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No meu último artigo lançado no CeluloseOnline (Água Mole, Pedra Gusa; Tanto Bate, Quanto Burla) me comprometi a escrever uma nota sobre a pressão que o segmento de produção do ferro-gusa vem sofrendo diante do monopólio do minério de ferro e da concorrência do gusa internacional a carvão mineral (coque). Pois bem, embora com certo atraso, segue a promessa.
O produtor de ferro-gusa, mal acostumado aos preços irrisórios do minério e do carvão de floresta nativa, passou, com a privatização da Cia. Vale do Rio Doce, a ter a perpetuidade de seus empreendimentos cada vez mais ameaçada à medida que, tanto o preço de um, quanto o do outro, entrou numa escalada sucessiva de aumento.
Com essa privatização e com a globalização, o mercado mundial do minério de ferro ficou, praticamente, concentrado na mão de três grandes mineradoras que passaram a exercer poder de transação até sobre as grandes siderúrgicas, o que se poderá dizer sobre as pequenas guseiras, isoladas, individuais e desestruturadas. Se na história do gusa era comum a rotina de crise, a ponto das empresas desligarem os fornos com certa frequência, agora, sob monopólio do minério, não tem sido diferente.
Em termos de poder de barganha, o guseiro está sob fogo cruzado. A montante tem o poderio das mineradoras e, a jusante, a força das grandes siderúrgicas que ainda compram, quando lhes convém, gusa no mercado. De um lado, sofre as atrocidades da ditadura ambiental, sobre a qual me desgastei de tanto escrever, e, de outro, a deslealdade da concorrência com países de menor responsabilidade socioambiental.
No tocante aos preços do minério de ferro, estes sofreram expressivos e seguidos reajustes logo após a mencionada privatização. No mercado mundial, ele saiu do patamar histórico de US$25 a tonelada para, a partir de 2004, alcançar o equivalente a US$130/ton. O mesmo aconteceu com o carvão vegetal que, até o ano de 2000, tinha um valor histórico aproximado de US$20/mdc. Hoje, mesmo em crise, orbita em torno de US$60/mdc.
Neste mundo globalizado, as usinas produtora de ferro-gusa a carvão vegetal do Brasil estão com os dias contados. A era do minério e do carvão vegetal barato não volta mais. Por razões como estas, o Estado e os guseiros precisam reagir e contornar a situação de crise frequente pelas quais passam. Ora, chega a espantar a apatia com que eles lidam com esta situação. Que o Estado é paquidérmico e só atrapalha, não é novidade, mas a inoperância da iniciativa privada assusta. O fato é que, caso o Poder Público e estes empresários não reajam, os obstáculos serão cada vez maiores.
Além da questão ambiental e do monopólio, o gusa brasileiro, que tinha como principal mercado os EUA, epicentro da crise, tem observado, desde 2008, o volume de vendas cair drasticamente e, para agravar ainda mais, o nosso ufanado gusa-verde vem perdendo mercado para o satanizado gusa-marrom, a carvão mineral, mostrando claramente que o mercado vive uma lógica totalmente diferente do que apregoa o ambientalismo utópico e retórico. Para o mercado, o que prevalece é o menor custo, independente da origem e do processo produtivo. Infelizmente, ele também não dá a menor atenção para as certificações ambientais que nossas indústrias possuem.
Nesta toada, o gusa “marrom” do leste europeu, para o qual o gusa “verde” está perdendo mercado, além de ser a coque, não tem a menor responsabilidade social. E é óbvio que não se pretende, aqui, ignorar nosso processo produtivo limpo e responsável para aumentar nossas exportações, mas é importante exigir um tratamento justo para manter, pelo menos, o gusa “verde” vivo neste mercado pelo fato de ser produzido mediante critérios sociais e ambientais rigorosos. Nunca é demais lembrar que o Brasil é o único que produz gusa com carvão, predominantemente, de plantações florestais. Não deixa de ser revoltante saber que este diferencial não é nada valorizado pelos países desenvolvidos que tanto se mostram, demagogicamente, preocupados com o futuro do planeta.
Se o futuro é fúnebre para as guseiras, será tenebroso para os produtores florestais que, se antes tinham a garantia de compra do carvão pelos guseiros sem se preocupar com a substituição do carvão mineral – a tecnologia dos guseiros não permite esta substituição tão linear -, pela frente, eles só terão como vender carvão para as siderúrgicas integradas que possuem plantações e independem do mercado e também possuem fornos com tecnologia que permitam a substituição do vegetal pelo mineral.
Desta forma, se o segmento guseiro persistir com este modelo de estrutura e organização, não terá como sobreviver e, assim, será o fim do caminho sem ter como culpar nem o “pau” (carvão vegetal) e nem a “pedra” (minério).
Felizmente sou otimista. Sei que no último round, tanto os empresários quanto o Poder Público reagirão e tratarão com destreza este segmento que é o mais importante para a sustentabilidade do mercado de madeira de plantações florestais do Brasil e que não deixarão à deriva os produtores que acreditaram no pedido do governo para reflorestarem suas propriedades. Do contrário, esses produtores ficarão no “desgosto”, “sozinhos” e, literalmente, com “restos de toco”. Que alguém faça alguma coisa antes das “Águas de Março”. Por favor, Tom!
Fonte: Painel
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