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Na China, dívida faz empresários fugirem
Publicada em 2011-11-07
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Quase 100 donos de empresa saíram de Wenzhou, cidade vista como vanguarda do setor privado no país, e 2 se mataram
Crédito oficial escasseia e agiotas cobram juros de até 180% ao ano; governo tenta evitar uma crise generalizada
Há dois meses, Zhuang Cheng, 19, se tornou um dos 2.000 funcionários da Xintai, a maior fabricante de óculos de Wenzhou e talvez da China. Com salário de R$ 556 queria poupar para abrir um negocio. Não houve tempo: em 23 de setembro, sem aviso prévio, a empresa fechou. Três dias antes, seu dono, Hu Fulin, fugira para os EUA.
O caso da Xintai não é o único. Considerada a vanguarda do empreendedorismo privado chinês, Wenzhou viu 94 pequenos e médios empresários sumirem em poucas semanas, deixando dividas enormes e milhares de funcionários furiosos. Outros dois cometerem suicídio.
O roteiro da bancarrota é parecido. Desde 2009, vários exportadores viram sua margem de lucro diminuir devido à desaceleração mundial, à valorização do Yuan e ao crecente custo de mão de obra e da matéria-prima.
Por outro lado, essas empresas se beneficiaram da expansão de crédito feita pelo governo de 2009.
Agiotas
Só que essa fonte começou a secar em 2010, quando o banco central chinês passou a elevar os juros e o deposito compulsório bancário, para conter a inflação decorrente do superaquecimento.
Com as portas dos bancos fechando, empresários recorreram a empresas de credito e agiotas em busca de financiamento, mas a juros que chegaram a incríveis 180% ao ano para empréstimos de curto prazo. Boa parte dessas dívidas pagava outras dívidas, gerando uma bola de neve.
No caso Xintai, a dívida alcança R$ 547 milhões, diz a imprensa local. Desse total, R$ 219 milhões foram contraídos em bancos, com juros mensais de R$ 1,4 milhão.
Já o dinheiro obtido com agiotas soma R$ 328 milhões, com juros mensais de R$ 5,5 milhões. Impagável para uma empresa que faturou R$ 74 milhões no ano passado.
A ameaça de uma crise generalizada em Wenzhou fez o governo chinês agir. Neste mês, o premiê Wen Jiabao passou dois dias na cidade em reuniões com empresários e governos locais. O governo também aprovou pacote de ajuda que expande linhas de credito e reduz o Imposto de Renda até 2015.
A Prefeitura de Wenzhou pagou salários e compensações de Zhuang e de todos os funcionários das fábricas fechadas. Aparentemente, Pequim também esta pressionando os empresários desaparecidos: três reapareceram, inclusive Hu Fulin, que pediu desculpas em entrevista.
Há motivos para preocupação. Cerca de 80% dos empregos na China são gerados por pequenas e médias empresas, responsáveis por cerca de 60% da produção industrial.
Em Wenzhou, as empresas fechadas são uma porção muito pequena do universo de 400 mil pequenas e médias da região, que tem cerca de 9 milhões de habitantes.
Zhuang já conseguiu novo emprego numa fábrica de óculos vizinha, assim como seus amigos. A exceção é sua mãe. “Ela trabalhava na Xintai havia dois anos e espera a reabertura. Ela acredita que vai recuperar o emprego.”
Líder empresarial pede aos colegas que não fujam
“Estou feliz que tantas empresas vieram”, diz Zhou De Wen, presidente da associação de pequena e médias empresas de Wenzhou, ao salão lotado de um hotel de luxo. “Por favor, não fujam. Cofiem no Partido, no governo e em nosso país.”
Em sua fala, Zhou fez um longo resumo dos custos crescentes e das dificuldades de obtenção de credito dos exportadores. Atribuiu parte da culpa da crise do governo, mas também disse que os empresários contraíram a dívida para especular com imóveis, em busca de lucro rápido.
O líder empresarial afirmou que o governo central prometeu ajudar a cidade e exortou os colegas em dificuldades a procurar a associação em vez de fugir.
Considerada o berço da iniciativa privada, Wenzhou se destaca em áreas de trabalho intensivo e tecnologia baixa: é tida como a capital mundial do isqueiro. Outros produtos famosos são os óculos, sapatos de couro, couro artificial e até brinquedos eróticos.
Muitos em Wenzhou emigraram para montar negócios no exterior. Boa parte dos lojistas chineses da Rua 25 de março, em São Paulo, é da cidade
Fonte: Folha de São Paulo
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