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Tupy desafia a lógica: é brasileira e competitiva.

Publicada em 2012-04-18



Enquanto a indústria brasileira questiona a capacidade de competir globalmente, a Tupy corre na contramão. Em um lance agressivo, investiu US$ 439 milhões na compra das fundições mexicanas Cifunsa Diesel e Technocast, do Grupo Saltillo, e tornou-se a maior fabricante mundial de blocos e cabeçotes de ferro para motores, capaz de processar 852 mil toneladas/ano em componentes automotivos.

Metade da produção da Tupy no Brasil, de 540 mil toneladas/ano processadas em Joinville (SC) e Mauá (SP), segue para outros países, desafiando a lógica. Há casos curiosos, como os blocos do motor do caminhão extrapesado TGX, da MAN, que são exportados de Joinville para a Alemanha e agora voltam para Resende (RJ), onde são incorporados aos veículos montados no País. Há também outro “case” parecido envolvendo a DAF, que deve comprar da Tupy os blocos e cabeçotes a serem usinados na Holanda, para depois voltarem como motores que vão equipar os caminhões da marca montados em Ponta Grossa (PR) a partir de 2013. Há ainda clientes especiais como a Ford, que encomenda nada menos de 200 mil blocos/ano produzidos em ferro vermicular para os motores V8 de 6.7 litros das picapes F250 e F350.

A estratégia de avançar para o México tem explicação na conquista de um mercado em expansão, representado pelo segmento de máquinas agrícolas e de construção. Até agora uma empresa com 89% do faturamento originado no fornecimento ao setor automotivo, a Tupy passa a comercializar produtos em partes iguais para veículos leves, caminhões e ônibus e máquinas agrícolas e de construção. “Este último segmento traz boas oportunidades no mercado internacional”, garante Fernando Cestari, vice-presidente da empresa – engenheiro mecânico cuja carreira começou na Sofunge, três anos antes de a fundição da Mercedes-Benz ser adquirida pela Tupy, em 1995.

Com o negócio no México a Tupy tornou-se a principal parceira da Caterpillar e John Deere no segmento, além de ampliar a lista generosa de clientes no exterior, que inclui nomes como Cummins, Ford, Perkins, Audi, MAN, DAF, Iveco, Chrysler, Navistar, Komatsu e Kubota. No Brasil, a marca atende todas as marcas de veículos comerciais e está presente também no segmento de leves. A DAF está ultimando a forma de fazer suas encomendas à empresa, para produção local, que deve incluir, além de blocos, cabeçotes e virabrequins, outros componentes de ferro fundido.

NO LIMITE E LUCRATIVA

As fundições da Tupy em Mauá e Joinville trabalham no limite e só haverá fôlego novo com a operação da unidade C, em Joinville, que terá capacidade para 70 mil toneladas/ano, depois de receber investimento de R$ 40 milhões para apressar a inauguração, marcada para o fim deste mês. A empresa já aplicou R$ 19 milhões em Mauá, restando ainda R$ 10 milhões a serem investidos em expansão. A operação no México tem também a carteira de pedidos cheia, atendendo clientes locais, dos Estados Unidos e de países da Europa e Ásia.

A matéria prima da empresa de Joinville é o ferro. “Não temos interesse no alumínio, material que não traz vantagens em blocos de motores em relação ao ferro e custo mais caro”, avalia Cestari. A Tupy apostou na estratégia de aguardar a terceirização de blocos e cabeçotes, antes produzidos de forma cativa nas montadoras. Deu certo.

“Os dois componentes, somados, representam menos de 1% do valor do veículo, mas trazem complexidade e são considerados críticos nos projetos. Investimos bastante em tecnologia para ganhar a confiança dos fabricantes de veículos e trabalhamos em conjunto com IPT, Poli, IME e outras especialistas globais”, assegura. Com o firme avanço no mercado brasileiro e exportando metade da produção, a fundição catarinense driblou as dificuldades logísticas e cambiais para tornar-se lucrativa. Em 2011, faturou R$ 2,18 bilhões, dos quais R$ 203,4 milhões entraram na conta do lucro líquido. A empresa emprega 9,5 mil profissionais no País e vende os produtos de ferro para 40 países.

NOVOS VEÍCULOS, NOVOS CONTRATOS

A Tupy prepara-se para fornecer os blocos do motor que a Ford vai montar em Camaçari para equipar o novo Ka. Será um propulsor 1.0 de três cilindros, que será produzido também na Índia, África do Sul e Europa. A MAN será outro cliente importante, com a substituição de motores da Cummins e MWM International pela linha própria de propulsores. “Vamos fornecer blocos na faixa de 140 a 280 cavalos”, revelou Cestari. “Haverá esforço grande também de outras marcas para enquadramento em novas regras de eficiência energética”, aposta o executivo.

Em outra frente, a empresa, por meio da VM Motores, vai abastecer o Grupo Fiat, com blocos de motores hoje utilizados pela Chrysler no SUV Cherokee, entre outros modelos, que serão utilizados em veículos montados na Itália, como Maserati.

Cestari acredita que o governo vai estimular o consumo, que vai gerar fretes. Assim o mercado de caminhões Euro 5 ganhará impulso, estimulando a demanda de blocos e cabeçotes. Ele admite, no entanto, que o segmento de veículos comerciais pode sofrer uma retração de até 10% este ano.

Paulo Ricardo Braga e Sueli Reis, AB


Fonte: Automotive Business