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Minério em alta é dor de cabeça para fundição.

Publicada em 2010-04-01



A indústria de fundição ganhou mais uma dor de cabeça, com o aumento do minério de ferro que passa a vigorar hoje. "O preço mais alto terá impacto direto no custo das empresas do setor e já se reflete, por exemplo, na cotação de ferro-gusa", alerta Devanir Brichesi, presidente da Associação Brasileira de Fundição (Abifa) e diretor da Deluma, que faz fundição de alumínio.

O setor tem como principal insumo o ferro-gusa, que teve reajuste de até 50% em março, de acordo com empresas de fundição. O produto representa cerca de 30% do custo total da maioria das fundidoras.

O principal cliente dessas empresas é a indústria automobilística, com uma fatia de 53% da produção interna de fundidos. E as montadoras, com seu elevado poder de barganha, exigem preços cada vez menores das fundidoras que, na outra ponta, veem seus custos disparar. "Somos a parte do meio do sanduíche", afirma Davnir Brichesi.

Fornecedora de produtos importantes como bloco de motores, por exemplo, entre centenas de outros, a indústria da fundição garante que passa por um período de terrorismo, na tentativa de administrar essas duas pontas da cadeia produtiva.

"O cliente pede descontos de 15% a 20%, ao mesmo tempo que temos de comprar matéria-prima a preços cada vez mais altos. Agora, com o aumento expressivo do minério de ferro, temos mais esse custo para administrar", afirma, Brichesi, presidente da Abifa.

Menos mal que o setor recuperou, no início do ano, parte do nível de produção que teve queda brusca em 2009, em consequência da crise global. A produção somada de janeiro e fevereiro chegou a 438.385 toneladas de fundidos, em comparação às 315.142 toneladas do primeiro bimestre de 2009.

"Trata-se mais de uma recuperação do que uma disparada da produção", lembra Devanir Brichesi. "Em fevereiro de 2009, a produção despencou 40% e estamos agora começando a ensaiar uma retomada".

7º no ranking mundial

O Brasil é o sétimo maior produtor mundial de peças fundidas, com faturamento de US$ 6,9 bilhões e produção de 2,3 milhões de toneladas em 2009. Essa posição não tranquiliza o setor - ao contrário, há crescente preocupação com a "invasão asiática" tanto no mercado interno quanto na disputa pelo mercado externo.

A invasão é liderada por China e Índia, que oferecem peças fundidas mais baratas, principalmente por subsidiar parte da produção para exportar, pela mão de obra mais barata e pelas vantagens tributárias em comparação ao Brasil. Além disso, a indústria de fundição tem a desvantagem cambial em comparação a seus competidores. O novo concorrente potencial que ronda o mercado é o Vietnã.

Os compradores da Europa, por exemplo, mudaram de postura nos últimos dois anos. Antes, optavam por buscar trabalhadores no Leste Europeu, para ter mão de obra mais barata no setor de fundição. Agora, preferem instalar fábricas no continente asiático, por exemplo.

Esse quadro preocupa o setor principalmente porque parte da produção é exportada. "Já chegamos a exportar US$ 1,5 bilhão em fundidos, em 2008", lembra o presidente da Abifa. Este ano o número deve ficar na casa de US$ 1 bilhão. A exportação de fundidos representa atualmente uma fatia de 14,3% da produção total, e essa fatia já foi de 20%.

"Temos que exportar, já que a capacidade de produção é de 4,5 milhões de toneladas e o mercado interno, por mais aquecido que esteja, não absorve toda essa produção", afirma Devanir Brichesi. Este ano o setor prevê que a produção será de aproximadamente 3,4 milhões de toneladas.

O Brasil tem 1.350 fundidoras e mais de 90% do setor são formados por pequenas e médias empresas. Mesmo assim, ainda não há previsão de um processo de consolidação na indústria de fundição. "No Brasil, ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, as montadoras não mostram interesse em incorporar empresas de fundição. Ao contrário, elas preferem contar com fornecedores cada vez maiores nesse segmento, que tem em muitos casos incorporado a usinagem", informa o presidente da Abifa. Além dos veículos de passeio, a demanda por peças fundidas tem crescido também por parte dos fabricantes de bens de capital.

E o setor enxerga potencial de crescimento nas indústrias naval e ferroviária.

O setor também aposta em crescimento nas vendas ao setor de petróleo: "Há perspectivas positivas, como o pré-sal, principalmente em válvulas, compressores e conexões", diz Brichesi.


Fonte: DCI