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Onde estão os profissionais do chão de fábrica?

Publicada em 2012-06-04



Carreira para aqueles que desejam trabalhar nessa área pode ser promissora e permite o conhecimento técnico profundo dos produtos e processos da empresa.

Há cinco anos, Samanta Luchini, consultora especializada em desenvolvimento humano, foi procurada por um cliente para encontrar a mão de obra para o chão de fábrica de sua empresa. As vagas eram destinadas a fresadores, ferramenteiros, soldadores e, principalmente, operadores e programadores de máquinas CNC. Mas Samanta não conseguiu encontrar profissionais qualificados para ocupar esses cargos.

“A solução foi que nós mesmos formássemos o contingente que a empresa procurava, para que essa dificuldade fosse amenizada a médio e longo prazo”, conta a consultora. “Para isso, entramos em contato com o SENAI da cidade de Santo André (SP) para estabelecer uma parceria e, para a nossa surpresa, descobrimos que naquele ano não havia se formado nenhuma turma de operadores CNC”, lembra.

A constatação de Samanta é bastante real, ainda hoje, em muitas indústrias. Encontrar profissionais qualificados para trabalhar na área parece ser uma tarefa difícil. Segundo Paulo Rogério Borges, supervisor de avaliação educacional do SENAI São Paulo, o número de profissionais que procuram atuar no chão de fábrica tem decrescido nos últimos anos.

“Pelos depoimentos das empresas que visitamos, pudemos perceber que os profissionais recém-contratados, formados em cursos profissionalizantes e técnicos, relutam em atuar diretamente no chão de fábrica e optam, principalmente, pelas áreas informatizadas”, relata Borges. “Em parte, acredito que esse interesse tenha crescido pelo grande avanço da área de informática nos últimos anos”, opina.

Samanta enfatiza que muitos jovens podem ter uma percepção de que o trabalho operacional possa ter menos prestígio que outras áreas. “Muitos não percebem que essa ideia está completamente equivocada, já que muitas atividades dependem desse tipo de mão de obra”, ressalta. “Acredito que um desafio para as lideranças desse segmento, hoje, seja transmitir para seus colaboradores o significado desse tipo de trabalho e sua relevância”, completa.

Em empresas que se preocupam com a valorização de seus funcionários, profissionais como operadores de máquina CNC e líderes de produção podem chegar a receber salários até mais elevados que muitos cargos administrativos.

     

Uma carreira de desenvolvimento Elson Dias de Oliveira é líder de produção da Cummins Power Generation empresa que desenvolve soluções para a geração de energia – e trabalha há seis anos no chão de fábrica. Oliveira passou por todos os estágios de montagem dos produtos e teve a possibilidade de adquirir um conhecimento amplo do processo de produção. Em 2010, participou da seleção para o cargo de líder de produção e foi promovido. Oliveira faz o curso de tecnólogo em Logística, que deverá concluir em junho de 2013. Seu currículo conta com cursos de conceitos básicos de elétrica industrial, motor diesel e informática básica e de desenvolvimento Kaizen, oferecidos pela própria empresa com o objetivo de desenvolver a liderança de seus colaboradores. “Acredito que trabalhar no chão de fábrica nos oferece a oportunidade de agregar conhecimento amplo, pois temos contato com várias áreas e o processo completo de produção”, afirma.

Samanta explica que profissionais que atuam nessas funções têm a chance de adquirir uma noção bastante refinada dos processos e dos produtos fabricados e comercializados pela empresa. Esse tipo de conhecimento é essencial para atividades relacionadas a áreas como marketing, vendas, consultoria técnica, atendimento ao cliente, compras e projetos, por exemplo.

Onde Oliveira trabalha hoje, no setor de manufatura, algumas de suas funções são: manter o foco em melhorias contínuas para a produção; manter o controle de todas as ferramentas utilizadas na linha de montagem, assim como decidir sobre compra de novas ferramentas e manutenção destes materiais; produzir e revisar o plano de processo – documento utilizado na produção para padronizar e orientar a montagem dos geradores; entre outras atividades.

“Trabalhar no setor de manufatura me ofereceu uma nova oportunidade de aprendizagem, pois consigo aplicar os conhecimentos que adquiro na faculdade de Engenharia de Produção, em que curso o 4º semestre, em meu trabalho diário”, conta o líder de produção.

Mas em sua experiência no mercado, Oliveira percebe que muitos dos profissionais que se preparam para trabalhar no chão de fábrica não chegam à vaga com as qualificações necessárias. “Muitos têm conhecimento apenas teórico – em alguns casos, não completo – e normalmente não têm experiência profissional”, comenta.

Profissionais focados

Também na Cummins Power Generation trabalha Luciano da Silva Almeida, líder de time no chão de fábrica. Sua experiência de 16 anos na área começou como montador de rádios, coletores e chassis de automóveis em uma grande empresa do setor automotivo.

Na Cummins desde 2001, Almeida começou como montador de grupos geradores e também já passou por várias etapas do processo produtivo. O conhecimento adquirido com essa experiência permite que ele faça uma avaliação mais apurada sobre quais os pontos que podem ser aprimorados quando se trata de segurança, qualidade e produtividade de sua equipe. “Acredito que alguns dos atributos necessários para se trabalhar nessa área é ser dinâmico e ter conhecimento aprofundado no segmento”, aponta Almeida.

Segundo o supervisor do SENAI, cada carreira no chão de fábrica exige qualidades bastante específicas. Para um operador de máquinas CNC, é importante ter familiaridade com equipamentos computadorizados; com termos técnicos, muitas vezes no idioma inglês; e, principalmente, ter capacidade e facilidade de memorização dos vários acionamentos existentes nos equipamentos CNC.

Já para aqueles que querem trabalhar como preparadores, os requisitos necessários são noções na área de mecânica, como leitura e interpretação de desenho técnico; utilização e manuseio de instrumentos de metrologia dimensional; além de todo o conhecimento necessário a um operador de máquina CNC.

Para aqueles que querem se tornar programadores, entre os pré-requisitos estão noções aprofundadas em processos de fabricação mecânica; linguagem de programação CNC; característica e parâmetros de usinagem dos materiais envolvidos; além de todo o conhecimento de um operador.

Samanta Luchini indica outros aspectos fundamentais para profissionais do chão de fábrica: trabalhar bem em equipe, ter uma visão sistêmica do processo, foco em resultados, proatividade e disciplina.

VANTAGENS E DESVANTAGENS

Com a formação adequada e os requisitos necessários, é possível construir uma carreira de sucesso no chão de fábrica. Esse caminho profissional permite alcançar um alto nível de aprofundamento técnico, que pode permitir destaque do profissional em outras áreas da empresa no futuro. Apesar disso, é importante também lembrar que este tipo de trabalho exige algumas condições específicas, como a jornada em turnos. Também por ser uma área ligada diretamente à produção, os profissionais do chão de fábrica podem ficar expostos a oscilações da demanda do mercado e possíveis reduções de vagas. Mas de acordo com Paulo Rogério Borges, do SENAI-SP, o futuro é promissor para esse mercado. “Hoje já percebemos a carência de mão de obra especializada em produção e acredito que com o desenvolvimento que estamos vivendo, teremos um aumento da demanda por esse tipo de profissionais”, prevê o supervisor.

Por Thaís Tüchumantel

 


Fonte: Manufatura em Foco