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A Guerra da Sucata.

Publicada em 2013-02-07



Embate bilionário que envolve gigantes do setor siderúrgico - Gerdau, Arcelor Mittal e Votorantim - e associadas do Inesfa tem agitado bastidores da política comercial

A Câmera de Comércio Exterior (Camex) deve decidir hoje sobre uma disputa bilionária que tem agitado os bastidores da política comercial, em Brasília. A batalha envolve três gigantes do setor siderúrgico - Guerdau, Arcelor Mittal e Votorantim - representadas pelo Instituto do Aço Brasil, e as revendedoras brasileiras de sucata ferrosa, reunidas no Instituto Nacional das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Inesfa).

O embate gira em torno do pedido feito pelas siderúrgicas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), em agosto do ano passado, para que o governo crie dificuldades à exportação de sucata ferrosa. Pela proposta, o Brasil passaria a retaliar, na mesma moeda, os países que taxam ou impedem a exportação da matéria-prima, como Argentina, Ucrânia e Emirados Árabes. Ou seja: as vendas para os mercados que cobram uma sobretaxa de 20% nas exportações de sucata, sofreriam a mesma alíquota; e as operações para aqueles que proíbem as exportações seriam simplesmente vedadas.

"Essa medida tem o único objetivo de aumentar ainda mais as gordas margens de lucro das siderúrgicas brasileiras", acusou o presidente do Inesfa, Marcos Sampaio. O comércio de sucata ferrosa movimenta cerca de 10 milhões de toneladas por ano, no País. As exportações, no ano passado, alcançaram 338 mil toneladas.

O instituto do Aço rebateu a crítica. "No Brasil, toda a sucata processada é comprada pelas empresas produtoras de aço. Como nem sempre a oferta é suficiente, eventualmente somos obrigadas a importar", afirmou a entidade, em nota.
"Procuramos o governo para pleitear não o bloqueio das exportações de sucata, mas sim a reciprocidade de taxas de exportação promovidas por alguns países".

Lobbies

Pelo lado da siderurgia, quem faz, oficialmente, o lobby perante o governo é o presidente executivo do Instituto do Aço, Marco Polo de Mello Lopes, que tem livre trânsito com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. A segunda voz a argumentar pela indústria do aço é a do empresário gaúcho Jorge Gerdau, principal conselheiro da presidente Dilma Roussef no setor privado.

As revendedoras contrataram a empresa de consultoria do ex-ministro do Desenvolvimento no governo Lula, o empresário Miguel Jorge, e do ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral. Contam ainda com os serviços do economista Gesner Oliveira, que presidiu o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) entre 1996 e 2000, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Na última quarta-feira, antes de se reunir com representantes do Instituto do Aço, Pimentel afirmou ser "muito difícil" acatar o pleito das siderúrgicas. "Essa reciprocidade é condenada pela OMC (Organização Mundial do Comércio), então acredito que não seja possível atendê-la", disse.

O ministro considerou ainda que a discussão não estava ainda madura para ser levada à Camex. Deve ter mudado de ideia depois da reunião, pois  assunto acabou entrando na pauta do órgão. "Não é possível dizer se haverá uma definição sobre o tema, mas que será levado à discussão, isso já está confirmado", informou uma fonte.


Fonte: Jornal do Commercio