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2013 - Ano da recuperação.
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O novo ano começou e a indústria do aço já apresenta o veredicto do que espera: que 2013 seja bem melhor do que 2012. O setor inicia o período com uma expectativa de que pelo menos 3,5% do PIB seja destinado ao crescimento industrial e que o governo crie medidas dedicadas a melhorar o desempenho setorial, uma vez que o ano passado não foi dos melhores – houve uma queda de 1,5% na produção em relação a 2011.
Isso se reflete justamente no consumo de produtos relacionados à siderurgia: apenas 0,5%. Segundo o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr) Marco Polo de Mello Lopes esse montante não é suficiente. “O PIB do País não poderá ser apenas de 1%, que foi o que vimos em 2012. Para o consumo e as vendas internas crescerem, imaginamos cerca de 3,5%”, avaliou.
A elevação da alíquota de importação, o fim da guerra dos portos com incentivos de alguns governos estaduais às importações e um câmbio mais competitivo são apostas do setor, em função das medidas tomadas pelo governo. De acordo com o executivo, o ano passado foi um dos mais complicados para a siderurgia brasileira. Houve uma retração de 2% na atividade industrial, e, além disso, a entrada de aço importado obrigou os empresários a recuarem. Uma saída para melhorar a situação que se desenhou ao longo do período foi garantir um crescimento sustentado baseado no mercado nacional. “Esse é o nosso mantra. Não podemos ficar sempre patinando no consumo per capita de 120 quilos a 130 quilos ao ano”, disse Lopes.
Um plano governamental prevê a exigência de conteúdo nacional mínimo, de 55% a 60%, nos chamados programas especiais, como obras da Copa do Mundo e da Olimpíada, e em todos os contratos em que há presença de financiamento público. Nascido da necessidade de aumentar e promover a produção brasileira de bens e serviços utilizados na indústria do petróleo, o chamado conteúdo local (também chamado de conteúdo nacional) adquiriu uma enorme importância para o desenvolvimento brasileiro. O know-how acabou sendo transferido também para outros setores da economia, como, por exemplo, o siderúrgico e o elétrico.
“A certificação de conteúdo local (espécie de auditoria do que é efetivamente fabricado ou, no caso de serviços, o que é prestado por mão de obra nacional) é um instrumento que precisa ser seguido fielmente de acordo com que está firmado nos contratos com as empresas”, esclarece o consultor Alberto Machado da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Para Mello Lopes do IABr, algumas medidas que foram tomadas no ano passado deram o tom das negociações e dos balanços finais feitos pela indústria setorial, como a lei que põe fim à guerra dos incentivos de governos estaduais em vários portos do País, o aumento de alíquota de importação para uma série de produtos de diversos setores, a desoneração da folha salarial, em especial para o setor de máquinas e equipamentos, a renovação do Reintegra em 3%, o Programa de Sustentação de Investimento (PSI) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a redução da tarifa de energia elétrica. A Abimaq faz coro com IABr e considera o saldo positivo, mas ainda enxerga o valor alto do déficit como um problema importante a ser enfrentado. “Foi a primeira queda [no déficit] desde 2004, mas é ainda o segundo maior da nossa história”, disse o presidente da entidade, Luiz Aubert Neto. O executivo voltou a elogiar as medidas do governo de reduzir custo de energia e de crédito, além das desonerações para estimular fabricantes nacionais. Ele afirmou que a Abimaq está preocupada com a possibilidade de o câmbio se estabilizar abaixo de R$ 2, como vem acontecendo.
O fraco desempenho em 2012 permitiu que a indústria mantivesse seu nível de produção no mês de dezembro em relação a novembro. Foram feitos ajustes sazonais, porém, as perspectivas não foram tão favoráveis à retomada para 2013. Em 2012, a deterioração do investimento, grandes estoques, a exportação dificultosa e o aumento do nível de endividamento das famílias foram os principais determinantes do recuo de 2,7% da produção que, segundos os especialistas, foi o pior resultado desde 2009. Na época, o setor foi arrasado com um índice negativo de 7,4%. Mas a tônica do ano deverá ser irregular, uma vez que há uma série de incertezas no cenário externo. Tudo indica que setor de bens de capital poderá ser o mais atingido.
Para economista da LCA Consultores Rodrigo Nishida, ao cair 0,8% na passagem de novembro para dezembro, a indústria teve sua quinta retração mensal consecutiva – no acumulado do ano, recuou 11,8%. “Um acúmulo excessivo de estoques prejudicou os fabricantes de bens de capital no último mês do ano, já que as vendas de caminhões e ônibus reagiram, e os desembolsos do BNDES também aumentaram no período”, explicou.
As avaliações da FGV também apontam o setor de bens de capital como o único que ainda sofre com excesso de mercadorias paradas. Entretanto, esta é uma situação que já vai se acomodando, uma vez que os estoques vão sendo vendidos, a produção deverá ser retomada com mais vigor porque vários investimentos vão tomando ‘corpo’.
O comportamento ruim do segmento de bens duráveis, que mesmo com o IPI reduzido para automóveis chegou a apenas 0,5% em novembro também sofreu com a queda de 1% no consumo de veículos automotores. “A compra de carros ficou mais concentrada no terceiro trimestre, mas isso também contribuiu para o resultado ruim da atividade industrial do setor em dezembro. Houve fatos importantes, como a paralisação na fábrica da Renault e a não incorporação pelo IBGE da produção das novas fábricas de montadoras asiáticas”, relacionou o economista.
Com isso, o consumo doméstico de aço sofreu baques em momentos distintos, e, particularmente no setor automotivo. Isso obrigou os fabricantes do setor a pressionarem o governo federal a tomar medidas mais abrangentes. Uma delas gerou a discussão em torno de um programa do Ministério do Desenvolvimento chamado, até o momento, de “Compre Nacional” ou “Buy Brasil”. O mote gira em torno de obras de infraestrutura, de óleo e gás, do setor de geração de energia até o automotivo. Com o BNDES à frente, produtos nacionais teriam preferência nas compras governamentais brasileiras. “O aço, máquinas e equipamentos, autopeças, e outros insumos, estariam entre as prioridades do governo”, diz Lopes, do Instituto do Aço. A participação mínima de produtos nacionais nas compras deverá bater em torno de 55% a 60%. Será preciso desenvolver produtos locais com maior conteúdo tecnológico. Atualmente, a indústria automotiva coloca até gastos com publicidade como conteúdo nacional no seu custo final. Para Lopes, não faz sentido.
“A indústria do País, como um todo, precisa se beneficiar, como nos EUA, da exigência do conteúdo nacional. Vamos procurar montar a mesma coalização de forças, capital e trabalho, unindo entidades de trabalhadores e empresários, para fortalecer o consumo interno industrial e geração de empregos”.
Segundo Flávio Serrano, do BES Investimento, o primeiro semestre de 2013 deve mostrar um desempenho lento da indústria. Isso porque mesmo com um crescimento mais pulverizado, o segmento de veículos crescerá a taxas menores com a volta gradual do IPI. “Esse modelo de crescimento está se esgotando. O mercado de bens duráveis será um dos primeiros a sentir o baque”, comentou. A expectativa do setor é que as vendas da produção interna cresçam 7,7% neste ano, atingindo 23,4 milhões de toneladas, e o consumo aparente [venda local mais importado], chegue a 4,3%, alcançando 26,4 milhões de toneladas.
O ano passado, para os analistas, as expectativas foram frustradas: a alta de apenas 0,5% no consumo e 0,7% nas vendas de aço surtiram uma certa preocupação. “ Foi um dos anos mais difíceis já vividos pelo setor siderúrgico do país. Superou até 2010, quando tivemos uma enxurrada de importações de aço, problema que ainda não está totalmente solucionado. Há um excesso monumental de aço no mundo, de quase 600 milhões de toneladas, e muita oferta vindo de países da Ásia, Leste europeu, e também da Turquia. Esperamos que as medidas, como o fim da guerra dos portos e o aumento de alíquota, aliadas a um câmbio mais competitivo, consigam inibir a entrada de material com incentivos de governos dos países exportadores, principalmente da China”, analisou o dirigente do IABr.
O especialista Fábio Ramos, da Quest Investimentos, projeta que a produção industrial terá aumento de 3% diante de 2012, com um desempenho pouco melhor no quesito das exportações, acreditando também no final da queda de investimentos. Para ele, há alguma espécie de enjoo no setor de bens duráveis, “provocada pela retirada dos incentivos e a antecipação de consumo observada em 2012”.
A competição global obriga fabricantes nacionais de aço a acharem soluções para a produção que tem caído bastante. “Os investimentos em obras de infraestrutura e o fortalecimento da construção civil são nossos os nossos maiores aliados. O país tem um déficit habitacional enorme. Na China, a construção responde por 50% do consumo total de aço. Na Índia, por mais de 60%. No Brasil ainda estamos com 35%”, conta Lopes. A chave para resolver uma boa parte dos problemas está nos chamados grandes eventos, como as obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas, por meio do conteúdo local. O prblema é que na maioria dos estádios da Copa, que estão sendo construídos com dinheiro do BNDES, praticamente 100% das estruturas metálicas são estrangeiras. Um fonte diz que a siderúrgica de Pecém (CE) ( que está sendo construída por empresas como a Vale, Posco e Dongkuk) importou todo aço vergalhão.
Flávio Serrano, do BES, estima uma alta entre 3% e 3,5% da produção, porém, avalia uma intervenção governamental provoca uma volta esperada para o investimento, “sendo uma espécie de variável importante para o cenário”. Outras análises dão conta de que a indústria pode voltar a ter resultados positivos, já que a confiança do empresariado se mantém confiante desde janeiro. Vale lembrar que a base de comparação de 2012, levando o câmbio em nível depreciado, detectou uma pequena valorização, devido a estoques menores (exceto no setor de bens de capital), porém, com todas as demais medidas tomadas pelo governo para incentivar o setor – duas delas muito importantes: como a redução das tarifas de energia e a desoneração da folha de pagamento.
Discurso já conhecido de todos, o empresariado alega que o objetivo maior é garantir a competitividade do setor. O governo, segundo a indústria, demorou a admitir que havia um grau profundo de desindustrialização ocorrendo no país, o que até que tomou essas primeiras medidas de defesa comercial. “Não temos feito outra coisa, senão chamar a atenção do governo para a necessidade de se combater o galopante processo de desindustrialização. Há mais de quatro anos a Abimaq vem alertando para as questões que tiram a competitividade da indústria e que, por consequência, corrói todo o tecido industrial brasileiro, com o desmantelamento de uma cadeia produtiva que agrega valor, gera tecnologia e empregos de qualidade”, esclareceu o presidente da entidade Luiz Aubert Neto.
Mello Lopes comentou que existe a necessidade de um câmbio mais próxima da realidade: a redução na elevada carga tributária acoplada à unificação da alíquota do ICMS nos Estados é uma saída para a indústria. Segundo analistas, o setor quer outros tipos de aço numa segunda lista de produtos para elevação da alíquota de importação que o governo prevê para este trimestre. A estratégia permeia as negociações, de modo geral. “ Importações diretas e indiretas de aço continuam fortes. Juntas, somaram mais de 8 milhões de toneladas no ano passado. A entrada de aço direto foi de 3,8 milhões de toneladas, o mesmo volume de 2011”, disse. Em uma análise sobre 2012 e as perspectivas que se apresentam para 2013, Lopes explicou que só dois tipos de aço receberam benefícios nas alíquotas: o de bobinas laminadas a quente e fio-máquina. Além disso, ele afirma que alguns importadores estão burlando a medida, com truques para mudar a especificações das normas do país. Por isso, os fabricantes pediram a inclusão de aço carbono com adição de boro, normalmente os tipos que sofrem com modificações fraudulentas nas fiscalizações feitas regularmente. E mais: outros tipos com forte concorrência de importados, como no caso de vergalhões galvanizados tipo HDG e zincados também deverão passar por uma espécie de ‘malha fina’ do setor.
Vale lembrar que a capacidade instalada chega a 72% de ocupação (dados de 2012). A recuperação das vendas de máquinas veio de forma mais lenta que o esperado no fim de 2012 e o faturamento do setor fechou em R$ 80 bilhões, queda de 3% sobre 2011. O valor representou aprofundamento do recuo visto em outubro. Naquele mês, o último dado apresentado anteriormente pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) mostrou que a receita caía 2,3% em relação aos dez primeiros meses do ano anterior.
A cena da siderurgia brasileira vai se delineando como frágil, uma vez que tem perdido competitividade. Mello Lopes explicou que o Brasil consegue competir até a fase dos custos, antes de imputar impostos na produção, nas vendas e nos investimentos. “Dois produtos-base – bobina laminada a quente e vergalhão – foram analisadas em seis países: Brasil, Rússia, Alemanha, EUA, Turquia e China, pela consultoria Booz Allen. Quando se aplica a carga tributária, caímos de primeiro e terceiro lugares, respectivamente, para a última posição. Em bobina, o custo tributário total é de 44,3% e no vergalhão de 36,2%. A média dos seis países foi de 24%. Para se instalar uma usina integrada de aço plano no Brasil, como Usiminas e CSN, o custo chega a US$ 1,8 mil por tonelada. Na Índia é US$ 1 mil e na China fica em US$ 550”, resumiu.
Outro ponto que mercê atenção é que o Brasil acaba de perder o posto de oitavo maior produto de aço do mundo para a Turquia. Mesmo com um parque industrial com capacidade instalada de 48,4 milhões de toneladas, o consumo no mercado nacional não ultrapassa é de 28 milhões de toneladas de aço bruto. É o equivalente a 72% do total utilizado no mercado brasileiro. No ano passado, o Brasil produziu 34,7 milhões de toneladas; já a Turquia estima-se poderá ter batido na marca dos 38 milhões aproximadamente e ter se direcionado para exportação. A princípio, no nicho de aços longos no exterior, porém, já começa a ‘abocanhar’ o mercado de aços planos.
A redução das tarifas de energia elétrica para o setor industrial, anunciada recentemente pelo governo federal pode ajudar a indústria siderúrgica porque a utilização maciça de energia gera altos custos, e agora haverá uma redução significativa nos custos de produção.
Fonte: Revista Brasilieira do Aço
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