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Fundição perde espaço para importados.

Publicada em 2010-05-08



A produção indústria brasileira de fundição apresentou expansão de 21% de fevereiro para março de 2010, passando de 224 mil toneladas para 273 mil toneladas. A produção de março deste ano foi 43% superior ao do mês do ano passado, quando foram produzidas 180 mil toneladas de fundidos. As exportações setoriais também apresentam indicadores vistosos: de fevereiro para passaram de US$ 79 milhões para 87 milhões, em cifras (10%) e, de 30 para 35 mil toneladas (16%), em volume.
        
Com todas esses indicadores exuberantes, o setor deveria estar em festa. Não é bem assim.

Os números, segundo Devanir Brichesi, presidente da Associação Brasileira de Fundição (Abifa),escondem que o Brasil está perdendo espaço tanto no mercado doméstico para os importados, principalmente da China, como também no mercado externo. A tendência, de acordo com o executivo, é que o movimento se torne mais nítido, pois os custos de produção no Brasil, com a alta tributação são elevados. A esse fator soma-se a sobrevalorização do real frente ao dólar.

Conforme publicado na imprensa, o real foi a sétima moeda que mais se valorizou entre janeiro de 2008 e janeiro de 2010, com alta de quase 5%. Alcides Domingues Leite Junior, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, em artigo publicado no o portal administradores no dia 7 de abril, diz que “em termos reais (descontada a diferença de inflação entre o Brasil e os Estados Unidos), a moeda americana, atualmente, está 26% abaixo do valor que estava no início do Plano Real. No primeiro dia da atual moeda brasileira, um dólar valia um real. Hoje, em termos reais, vale R$ 0,743.”

Segundo Brichesi, ainda que o setor de fundição apresente números vistosos em 2010, dificilmente o balanço deste ano será fechado com faturamento similar ao de 2008, quando o setor movimentou US$ 11 bilhões, empregando cerca de 60 mil pessoas. “No curto prazo estamos bem, mas o futuro nos preocupa”, afirma, destacando que se tendência for mantida, anos de trabalho e investimento em estrutura de produção, desenvolvimento tecnológico e recursos destinados à formação de mão de obra serão perdidos.

 Segundo Brichesi, a indústria automobilística que consome 53% da produção de fundidos vem aumentando o volume de importações não só de partes e peças, mas também os chamados ferramentais (moldes, matrizes e estampos). Em alguns casos ferramentais usados estão sendo importados, o que prejudica ainda mais os fornecedores brasileiros deste tipo de equipamentos.

Ferramentais - Segundo Maurício Tomazetti, diretor da área de Ferramentaria da Abifa, a GM importou praticamente a totalidade dos ferramentais utilizados na produção do recém-lançado Classic, que é montado na unidade de São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo. “A linha de produção do Classic, em Xangai (China), foi desativada e eles trouxeram os ferramentais”, afirma.

 Um outra montadora que está importando grande volume de ferramentais é a Ford, embora, nesse caso, ferramentais sejam novos. De acordo com Tomazetti, a empresa encomendou na China um conjunto de 15 ferramentais, que serão utilizados de um caminhão. De acordo com o executivo da Abifa, estes ferramentais adquiridos pela Ford serão instalados na unidade da Usiminas Automotiva, em Pouso Alegre, no sul de Minas, que produzirá as peças automotivas para a montadora.

De acordo com Tomazetti, atualmente é quase que impossível concorrer com fabricantes de ferramentais da China. Para se ter idéia, o conjunto de 15 ferramentais importados pela Ford custa US$ 6,3 milhões. Caso eles fossem produzidos no Brasil, o conjunto custaria US$ 21 milhões. O preço por quilograma do ferramental na China sai por US$ 5,50; no Brasil, sairia por US$ 18. “Os nossos custos de produção são muito diferentes”, comenta, destacando que afirmar que os moldes e matrizes produzidos na China são ruins, é um erro. “Eles fabricam sim produtos ruins, mas nem todos se enquadram nessa categoria”.

Segundo Tomazetti, o crescente volume de importações põe em risco milhares de empregos na cadeia produtiva de ferramentaria no Brasil. Calcula-se que a cadeia gera 423 mil empregos diretos e indiretos no país. São 918  empresas na cadeia produtiva, das quais 753 atuam diretamente no setor de ferramentaria de moldes e conformação.

As 753 empresas, juntas empregam diretamente 63.615 pessoas, conforme do PIA-IBGE de 2007. “Estes empregos estão sendo ameaçados, pela importação de bens de capitais novos e usados, praticados principalmente pela indústria automobilística”, diz Tomazetti, que reivindica condições isonômicas para concorrer com os produtos importados.

Descolamento - Para o presidente da Abifa, há um claro descolamento entre o volume de produção de veículos no Brasil e a produção de fundidos, o que indica que as montadoras estão aumentado o volume de autopeças. De fato. O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) prevê um déficit setorial mínimo de US$ 3,6 bilhões, podendo chegar a US$ 4 bilhões, em 2010.

Numa tentativa de eliminar (ou minimizar) o problema, o Sindipeças revindica a revogação da lei que, desde 2000, reduz em 40% o Imposto de Importação de componentes automotivos trazidos por sistemistas e montadoras, o que lhes permite trabalhar com alíquotas de 9 a 11%.  Por outro lado, fabricantes de autopeças pagam a alíquota cheia, entre 14% e 18%.

No dia 5 maio último, o governo anunciou a eliminação do redutor do imposto de importação sobre autopeças, em seis meses, junto com as medidas para aumentar a competitividade das exportações. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) diz que pedirá a revisão da medida.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a CNM-CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos) aplaudiram o fim da eliminação do redutor de 40% no imposto de importação de autopeças e afirma que a medida atende às reivindicações da CNM e vão favorecer a produção de autopeças no mercado interno e frear o crescimento das importações.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, classificou como altamente positivas e alentadoras as medidas do pacote de apoio à exportação anunciadas pelo governo, mas ressaltou que não resolvem problemas estruturais que impedem a maior competitividade das vendas externas do país. (Franco Tanio)


Fonte: IPESI