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Chery traz até vigas da China para nova fábrica.

Publicada em 2013-10-21



Foram necessárias três viagens de navio, com duração média de 30 dias cada uma, e 150 caminhões, em comboios de 20 veículos por vez, para transportar, do Porto de Santos a Jacareí, no interior de São Paulo, as vigas de aço que vieram da China. Elas sustentam os edifícios da primeira fábrica de carros chineses no Brasil, a Chery, que será inaugurada em julho. Cerca de 60% a 70% do que tem na fábrica virá da China.

Mesmo com os custos de frete, imposto de importação e toda a logística para a importação, incluindo batedores que acompanharam a subida pela serra, o produto chegou ao Brasil mais barato do que se tivesse sido comprado localmente.

A disponibilidade do material também pesou na decisão de trazer do país sede a estrutura metálica da primeira fábrica completa a ser inaugurada pela Chery fora do mercado natal. O grupo fundado em 1997 é 100% estatal e tem unidades em algumas regiões, que só fazem a montagem de veículos com kits (CKDs) fornecidos pela matriz.

"O Brasil é o primeiro país a ter uma fábrica total da Chery fora da China", diz Luís Guri, vice-presidente da empresa no Brasil. A filial terá linha de pintura, solda e montagem.

Em território brasileiro, a empresa também vai produzir motores i.o e 1.5, provavelmente em Jacareí, por meio de uma divisão chamada Acteco, com início de operações previsto para o fim de 2014. Para a nacionalização desse componente, que inicialmente será importado, serão acrescidos US$ 130 milhões aos US$ 400 milhões de investimentos anunciados para a construção da fábrica de carros.

Em abril começará a produção experimental do Celer, primeiro automóvel da marca a ser nacionalizado. Segundo Guri, não será o modelo importado atualmente, mas uma versão renovada, com mudanças na parte frontal e no interior. "Embora mais abrasileirada, é a mesma versão que será vendida nos demais mercados."

Economia. Guri não revela qual foi a economia na importação das vigas. Além das estruturas metálicas, a Chery vai trazer da China a cabine de pintura, robôs e equipamentos de teste.

O executivo explica que, além da subsidiária brasileira, a Chery está construindo simultaneamente mais quatro fábricas na China. "A negociação para a compra de matéria-prima e equipamentos foi toda feita em conjunto, o que reduziu os preços para todas as unidades". Uma das novas unidades é em parceria com a israelense Qorus para fazer carros de luxo que vão concorrer com Audi, BMW e Mercedes-Benz.

O novo Celer que estreia no Brasil é o primeiro projeto de Hakan Saracoglu, que após 15 anos na Porsche assumiu em fevereiro o comando do centro de design da Chery em Xangai.

Em 2015, a fábrica iniciará a produção do segundo modelo, identificado como Projeto S15, um subcompacto que deve substituir o QQ. No ano seguinte, entram em linha mais dois produtos, o S31 e o S32 (hatch e sedan), ambos ainda em desenvolvimento na China.

No primeiro ano de operação a Chery do Brasil deve produzir 50 mil carros, volume que irá a 100 mil em 2016 e a 150 mil em 2018, quando os chineses apostam num mercado doméstico total de 5 milhões de veículos.

A fábrica de Jacareí também vai fornecer para mercados como Argentina, Uruguai, Chile e Venezuela, hoje abastecidos pela China. Os países da América do Sul devem consumir cerca de 60 mil veículos da marca em 2014 e o Brasil, 30 mil.

Este ano, contudo, a marca venderá cerca de 10 mil carros, num mercado que deve consumir 3,6 milhões de automóveis e comerciais leves. Guri credita o baixo desempenho às medidas de restrição aos importados adotadas pelo governo brasileiro, só amenizadas após a Chery habilitar-se ao Inovar-Auto, programa que dá benefícios às empresas que terão fábricas locais. O melhor ano foi em 2011, com 27 mil unidades vendidas.

Na China, a Chery é a sétima maior montadora e a primeira entre as marcas independentes (sem joint venture com grandes fabricantes, como Volkswagen e GM). A marca vende, em média, 600 mil carros por ano.

Chineses já estão no Brasil para tocar a produção

Acostumado ao regime chinês, onde a terra pertence ao Estado e seu uso é uma concessão, o vice-presidente mundial da Chery, Du Weiqang, emocionou-se ao receber a escritura do terreno de i milhão de metros quadrados, doado pela Prefeitura de Jacareí, “Percebia-se a emoção dele olhando aquele papel em suas mãos", lembra Luis Curi, vice-presidente da Chery do Brasil. A área abrigou, no passado, uma plantação de arroz, um dos alimentos mais consumidos no país asiático.

Atualmente, há cerca de 120 técnicos chineses em Jacareí trabalhando na montagem das máquinas que chegam ao País. Mais 150 devem chegar nos próximos meses para iniciar o treinamento dos 800 metalúrgicos que vão trabalhar na primeira fase de produção. Esse número deve chegar a 1,7 mil quando a fábrica operar com a capacidade de 150 mil veículos ao ano.

Também há entre 20 e 25 chineses em cargos executivos, incluindo o presidente da Chery do Brasil, Kong Falong, que tem se dedicado a aulas de português. Um grupo de chineses instalou-se em Jacareí e na vizinha Salto (onde ficará o escritório da marca) e mora numa espécie de república montada nas duas cidades. Eles até trouxeram cozinheiros chineses, que não deixam faltar língua de pato.

Muitos cargos de chefia terão brasileiros, corno Curi, economista de 52 anos que já trabalhou na Suzuki, na Mazda e na Ssangyong. Foi ele que, em 2007, foi à China negociar a representação da marca no Brasil e,junto com sócios, iniciou a importação dois anos depois.

Cada um dos executivos brasileiros tem um assistente chinês, uma espécie de "sombra" que faz a conexão com a matriz. "A filosofia de trabalho deles é focada na eficiência", diz Guri. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)


Fonte: O Estado de São Paulo