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Especialistas veem riscos em adiar ABS e airbag.

Publicada em 2013-12-16



O médico Júlio Cavalcanti, ex-prefeito de Olho d´Água, no interior da Paraíba, levou um enorme susto na noite de 16 de setembro, uma segunda feira. Ele ia pela BR-361, de Conceição para Patos, quando se deparou com um ônibus parado no meio da estrada. O veículo havia quebrado horas antes e fora abandonado nado pelo motorista sem sinalização. A dianteira de seu Honda Civic foi destroçada, entrou com violência para de baixo do ônibus e o para-brisa foi para cima dele.

Cavalcanti, porém, saiu do acidente ileso. "Não tive tempo de pisar no freio, que é ABS, mas o airbag foi acionado e salvou minha vida”, diz o médico. "Sem ele, o volante teria afundado a estrutura óssea do meu peito contra o pulmão: morreria ali mesmo.” Cavalcanti ficou pasmo quando soube que o governo queria protelar o uso dos itens de segurança, entre outras razões para reduzir o impacto do aumento do preço dos veículos sobre a inflação. "A presidente pode cortar a inflação em outras coisas, não com a vida das pessoas”, diz ele.

Pela lei, airbag e freio ABS se tornarão itens obrigatórios a partir de janeiro de 2014. Mas o governo estuda adiar a medida para 2016. A decisão deve sair na terça-feira, após reunião entre o governo e representantes do setor automotivo.

Irresponsável

O jurista e professor Luiz Flávio Gomes, especialista em violência no trânsito, torce para que o cronograma seja mantido. "Toda flexibilização na segurança do trânsito significa mais mortes”, diz ele.

Segundo levantamento realizado por Gomes para o Instituto Avante Brasil, o País é líder em mortes no trânsito entre as 10 maiores economias. São 22,6 mortes para cada 100 mil habitantes. Na Índia, onde o trânsito é um dos mais caóticos do mundo, são 18,6. O Brasil está a anos-luz do Reino Unido, onde a taxa é de 3,6. Estima-se que 50 mil pessoas morreram em acidentes neste ano. "O Brasil está numa posição desonrosa no ranking de mortes por acidente porque tem uma política pública equivocada para o trânsito”, diz Gomes. "Atrasar a obrigatoriedade nos itens de segurança é uma decisão irresponsável”.

O Instituto Proteste, que avalia o desempenho e a segurança dos carros brasileiros, em parceria com o Programa de Avaliação de Carros Novos Latin NCAP, já enviou correspondência para o governo repudiando a mudança. A Proteste está reunindo outras entidades que de fendem a segurança no trânsito para enviar uma carta aberta à Brasília. "É inaceitável que o governo desista de uma exigência vital para a segurança duas semanas antes de ela entrar em vigor”, diz Maria Inês Dolci, coordenadora do Proteste.

Montadoras e fabricantes de autopeças não se manifestaram, à espera de um eventual anúncio oficial do governo adiando a medida. Mas os especialistas do setor já avisaram que o adiamento será ruim para a indústria automotiva brasileira. "Airbags e sistemas ABSs são itens essenciais dos veículos no primeiro mundo”, diz Stephan Keese, sócio-diretor da Roland Berger especialista na área automotiva. "Se a obrigatoriedade for adiada, a indústria local ficará atrasada em relação à de países desenvolvidos”.


Fonte: O Estado de São Paulo