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Escassez de máquinas atrapalha indústrias.

Publicada em 2010-06-01



As empresas que passaram pela crise econômica global agora enfrentam uma nova dor de cabeça: a falta de certas máquinas-ferramentas e outros equipamentos básicos de que necessitam para dar conta da demanda.

As máquinas-ferramentas são essenciais à indústria - são equipamentos para cortar, moldar e fazer a estamparia de outras máquinas usadas para fabricar todo tipo de produto, de parachoques a seringas. Para algumas empresas, a escassez de máquinas- ferramentas está causando gargalos de produção e atrasos nas entregas agora que se preparam para cumprir novas ordens ou repor seus estoques.

Os fabricantes de máquinas-ferramentas, por sua vez, enfrentam muitas das mesmas dificuldades de seus clientes.

Na quarta-feira, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos informou que as novas encomendas de bens de capital fora do setor de defesa, excluindo aviões - um indicador amplamente usado pelos economistas -, caíram 2,4% em abril ante março, mas deram um salto de 23,5% em relação a abril de 2009. Em março, os pedidos de máquinas-ferramentas foram 49,5% superiores a um ano antes, segundo a Associação para Tecnologia de Manufatura e a Associação Americana de Distribuidores de Máquinas-Ferramentas.

As compras de máquinas-ferramentas e outros equipamentos ainda estão bem abaixo dos níveis pré-crise, particularmente nos países desenvolvidos, onde, de uma forma geral, a recuperação tem sido mais lenta e irregular que em economias emergentes como Índia e China. Mas porque a recontratação de funcionários e a reestocagem dos depósitos levam algum tempo muitas empresas têm dificuldades para acompanhar a recuperação na demanda, e a escassez está aumentando.

"As empresas estão tendo dificuldade para acompanhar o volume de negócios que está surgindo", diz Joseph Carson, economista da AllianceBernstein.

O problema vai além das máquinas-ferramentas. As fabricantes de equipamentos para telecomunicações Alcatel-Lucent SA e Telefon AB L.M Ericsson já informaram que estão lutando para conseguir componentes eletrônicos suficientes para atender aos pedidos dos clientes. A Boeing declarou no mês passado que a falta de partes estava dificultando a produção do 787 Dreamliner.

Atrasos na entrega de equipamentos podem significar a perda de encomendas para empresas grandes e pequenas, já que todas elas dependem da mesma cadeia de fornecimento para conseguir máquinas e peças no mercado mundial. Há dois meses, por exemplo, Joe Ostrowski, proprietário da Delta Hi-Tech Inc., uma empresa de Chatsworth, na Califórnia, encomendou uma espécie de máquina-ferramenta japonesa para a fabricação de aparatos médicos. A máquina foi entregue rapidamente. O problema é que ela precisava de componentes adicionais para funcionar - e esses estavam em falta.

"Eles me disseram que em uma semana fariam o ajuste, mas levou um mês e meio para conseguir todas as partes", diz Ostrowski. "Eu senti a situação com aquela máquina."

Uma das razões que provocaram a demora foi o fato de que os fabricantes japoneses de maquinas- ferramentas, que têm uma grande fatia do mercado mundial, passaram a se concentrar em atender à crescente demanda chinesa. Em 2006, as exportações japonesas de máquinas-ferramentas para os Estados Unidos eram mais que o dobro das vendas para a China. A relação se inverteu. No primeiro trimeste deste ano, as vendas de maquinas- ferramentas do Japão para a China atingiram 53,7 bilhões de ienes (US$ 597 milhões), contra 23,2 bilhões de ienes em vendas para os EUA.

Como seus clientes, os fabricantes de máquinas-ferramentas estão com dificuldades para aumentar a produção. No ano passado, a americana Hurco Co. chegou a produzir apenas 30 máquinas-ferramentas por mês na sua fábrica de Taiwan. Agora, está fazendo cerca de 100 unidades. Mas antes da recessão ela estava produzindo 200. A dificuldade em encontrar empregados qualificados para substituir os que foram dispensados durante a crise tornou mais difícil atender à demanda.

 Isso, por sua vez, aumentou o tempo de espera dos clientes. Como esses compradores muitas vezes pedem os equipamentos para suprir sua própria demanda em expansão, o atraso nas entregas acaba tendo um efeito cascata.

Ostrowski, da Delta Hi-Tech, tem comprado ativamente máquinas usadas. Várias pequenas lojas de equipamentos faliram durante a recessão e inundaram o mercado com máquinas- ferramentas com pouco uso e preços bem reduzidos.

Segunda-feira, a Storm Copper Components Co. finalmente recebeu a prensa hidráulica que tinha encomendado no fim de fevereiro e que deveria ter sido entregue há dois meses, diz Steve Crumley, diretor de engenharia da fabricante de componentes elétricos, de Decatur, no Estado americano do Tennessee. Enquanto esperava, diz, ele teve de terceirizar parte da produção, o que aumentou os custos.

Desde que a Fanuc Robotics America, subsidiária americana da japonesa Fanuc Ltd., notou um aumento dos pedidos de equipamentos robóticos pelas fábricas, um dos maiores desafios foi encontrar peças para atendê-los, diz o diretor-presidente da subsidiária, Rick Schneider. "O maior gargalo não foi a montagem das máquinas, mas conseguir os equipamentos."


Fonte: Valor