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Onde colocar todo o aço produzido?

Publicada em 2010-07-05



Convidado para analisar o mercado em um evento promovido pela Abcem, o presidente do Inda, Carlos Jorge Loureiro, começou sua palestra com esta pergunta.

A propósito, esta é a grande pergunta que também se fazem os integrantes da cadeia siderúrgica mundial. Isto porque a projeção de produção para 2010, baseada na produção de abril, aponta para um crescimento de 19% em relação ao ano passado, o que representará 1.480 milhões de toneladas em todo o mundo.
Já existe um excesso de estoque no mundo e as notícias econômicas vindas principalmente da Europa não são nada animadoras. Além da crise da Grécia, que acaba sendo um problema menor, uma vez que de certa forma já está equacionado, existe a perspectiva de novas surpresas, provocadas por economias mais complexas, como Espanha, Portugal, Itália e, inclusive, Grã Bretanha, que estão optando por uma recessão mais forte para viabilizar seus ajustes fiscais. No médio prazo, essas medidas representam um consumo menor de aço, justamente no momento em que a produção mundial vem crescendo.

No Brasil, ainda que a base de comparação seja frágil, pois, tomando como referência o período de janeiro a abril de 2009 – um dos mais negativos da história –, a produção de aço cresceu algo como 59% no mesmo período de 2010, atingindo 10.733 mil toneladas. Partindo dessa premissa, a produção brasileira de aço deve apresentar um crescimento na casa dos 22,6% em relação a 2009. Em comparação a 2008, considerado um dos melhores períodos da siderurgia brasileira, tudo indica que haverá um empate técnico.
Quanto à rede de distribuição, representada pelos associados do Inda, em abril, as compras registraram um crescimento de 0,7%, atingindo 432,6 mil toneladas, e as vendas foram de 342,6 mil toneladas, registrando um declínio de 10%. O que chamou a atenção foi o crescimento do estoque, que ultrapassou as 900 mil toneladas, chegando, mais precisamente, a 908,4 mil toneladas. Segundo Loureiro, “é muito provável que agora, em maio, pela primeira vez no ano a rede de distribuição ultrapasse a casa de 1 milhão de toneladas em estoque”.
Em todas as estatísticas, o número que chama a atenção é o volume das importações, que em abril atingiu 324.369 mil toneladas, o que representa um salto de 370% em relação a abril de 2009. Se considerarmos o período de janeiro a abril de 2010, que registrou a entrada de 1.151.901 toneladas contra 391.415 mil toneladas no ano passado, o diferencial é de 194,3%.

Na opinião de Carlos Loureiro, “este nível de importação, além de ser preocupante, ocasiona uma grande desorganização na formatação dos preços no mercado doméstico, pois alguns aços importados de qualidade inferior, que entram em nosso mercado, evidentemente, devido aos seus preços menores, mas que acabam determinando a queda generalizada dos preços”.

Nesse contexto, o panorama que o mercado tem por diante não é nada animador, pois, segundo Loureiro, ainda em maio deve ocorrer uma substancial entrada de produtos importados, antes da queda que deve acontecer somente em junho.
Quanto à pratica de preços no mercado interno, Loureiro salientou que as usinas encontram-se em dificuldades para determinar seus preços de venda, pois, mesmo com os ajustes já praticados no primeiro quadrimestre, com uma variação entre 10% e 15%, já se fala em outro ajuste também nessa faixa no mês de julho, para compensar os ajustes ocorridos em seus insumos básicos. Ocorre que, como é do conhecimento geral, as fornecedoras de minério de ferro e de carvão resolveram praticar reajustes trimestrais, baseados em uma média ponderada dos últimos três meses.
Compreensivelmente, a reação imediata das usinas é repassar esses custos adicionais aos preços de seus produtos. Entretanto, como o aço é hoje um produto global, quem dita as regras em relação aos preços é o próprio mercado. Como há uma superprodução mundial e excesso de oferta em todo o mundo, além de estoques altos, surgem a todo instante nos mais diversos pontos do mundo as chamadas ofertas especiais que têm sido aproveitadas pelos consumidores.

A China, que hoje é responsável por 50% do aço produzido no mundo, é o fiel da balança e, tendo algum problema de mercado, pode gerar excedentes que causariam um colapso nos preços internacionais.
Finalizando, Carlos Jorge Loureiro afirma que “espera um segundo semestre mais aquecido, o que é tradicional nas projeções que fazemos no Inda para o nosso setor. Em 2010, esperamos passar a barreira das 4 milhões de toneladas vendidas”. A projeção do Inda é de uma evolução de 20,4% nas vendas, atingindo o patamar de 4.009 mil toneladas durante todo o ano de 2010. www.inda.org.br

Carlos Jorge Loureiro - Siderurgia Brasil — Edição 63


Fonte: Siderurgia Brasil