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Importações de autopeças devem seguir em alta.
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A eliminação do redutor de 40% do imposto de importação sobre autopeças não mudou de forma significativa nossa expectativa quanto ao desempenho da balança comercial do setor para o próximo ano. A despeito do aumento das alíquotas de importação sobre peças e componentes usados na indústria automobilística, dada a composição da pauta de importações brasileira no segmento, acreditamos que dificilmente seria possível para a indústria nacional de autopeças substituir os produtos importados em um curto espaço de tempo. Dessa forma, enquanto para este ano projetamos expansão de 42,7% nas importações de autopeças em valor frente ao resultado de 2009, em 2011, nossa expectativa contempla crescimento adicional, embora mais modesto, de 6,6%.
A taxa de crescimento expressiva a ser registrada em 2010 está mais relacionada à base de comparação deprimida do que a uma forte expansão da produção nacional de veículos, que deve apresentar alguma acomodação nos próximos meses frente à retirada dos estímulos tributários pelo governo sobre os carros de passeio. Além disso, pressões de custos provenientes da alta nos preços de importantes insumos com destaque para os produtos siderúrgicos deverão provocar aumento nos preços finais dos automóveis até o fim do ano, atuando como fator adicional a desestimular a demanda. A piora a ser observada nas condições de crédito também será outro fator a arrefecer as vendas internas de veículos nos próximos meses.
Para a produção nacional de autopeças, considerando a série de produção física industrial de "peças e acessórios para veículos" do IBGE, esperamos aumento de 21,4% neste ano e expansão de 11,4% em 2011. Novamente, a elevada taxa de variação esperada para 2010 está associada à base de comparação deprimida.
Em 2009, a produção nacional de peças e acessórios para veículos não acompanhou o ritmo das montadoras, conforme aponta o comparativo entre as séries de produção de autopeças do IBGE e de automóveis da Anfavea. Enquanto a produção de peças registrou contração de 20,8% no ano passado, a produção de veículos, incluindo automóveis e comerciais leves, caminhões e ônibus, teve retração mais modesta, de 1,0%. Na época, mencionou-se que houve corte maior de funcionários nas empresas fabricantes de peças do que nas de veículos (40 mil vagas da primeira contra 12 mil da segunda).
A eliminação do redutor sobre as tarifas de importação de autopeças, que ocorrerá em etapas e deverá estar concluída até meados do ano que vem, não deverá alterar significativamente a evolução das importações no curto prazo. Conforme já mencionado, grande parte dos componentes adquiridos no exterior não é facilmente substituída por similares nacionais. A análise da composição das importações do segmento, de acordo com informações da Secex, mostra que grande parte dos itens comprados no exterior representa componentes mecânicos e eletrônicos de alta tecnologia.
Além disso, as maiores empresas de autopeças e que são fornecedoras diretas das montadoras, tendem a continuar importando itens mais sofisticados e que atendem a normas de segurança e padrões de emissão de poluentes exigidos no mercado internacional.
O aumento das importações nos últimos anos ocorreu devido à recuperação da produção doméstica, a qual não foi acompanhada por expansão da capacidade instalada do setor de autopeças em diversos segmentos. A demanda instável até o começo dos anos 2000, fruto, principalmente, da elevada volatilidade do cenário macroeconômico, assim como a tendência de apreciação do câmbio pode ter contribuído para decisões mais conservadoras de inversões no segmento.
Apesar de a evolução da produção nacional de autopeças ter apresentado desempenho inferior ao das montadoras nos últimos anos, as perspectivas para o segmento no médio prazo são relativamente positivas. Modelos econométricos estimados pela Tendências mostram que a produção nacional de autopeças responde com considerável sensibilidade a variações na fabricação de veículos. Para 1% de variação nos volumes produzidos de veículos, ocorrem variações no mesmo sentido de 0,8% na produção de peças e acessórios e de 0,2% nas importações. Cabe observar que, para a realização dos testes estatísticos, adequamos a série de importações (em valor), a partir de uma série de taxa real de câmbio construída pela Tendências, a qual isola os efeitos da inflação doméstica e americana.
Consistente com a evolução recente do mercado automotivo, que deverá se sustentar nos próximos anos, desde 2009 foram anunciados investidos de cerca de R$ 2 bilhões no setor, segundo levantamento de anúncios de investimentos das maiores empresas fabricantes de autopeças elaborado pela Tendências .
No cenário econômico esperado para os próximos anos, que prevê crescimento da demanda doméstica por veículos a taxas superiores às da economia como um todo, a produção de autopeças deverá apresentar aumento expressivo, acompanhado por incrementos nas importações. Sustenta tal cenário, além da taxa de câmbio mantida em patamar relativamente apreciado, a necessidade de se adquirir no exterior alguns componentes sem similares produzidos localmente. As importações deverão registrar evolução mais expressiva no mercado de reposição, o qual esta mais sujeito à concorrência de produtos nacionais similares.
A indústria nacional de autopeças caracteriza-se por um alto grau de heterogeneidade em termos de porte e perfil das empresas. Em 2009, de acordo com informações do Sindipeças, havia 509 empresas fabricantes de autopeças no Brasil, divididas em dois tipos principais: as de grande porte e mais complexas (sistemistas) e as empresas menores. As sistemistas caracterizam-se por fornecer produtos mais complexos ou módulos prontos, cujo desempenho é mais crítico para o negócio das montadoras. Já os fabricantes de menor porte em geral ofertam produtos "commoditizados" e menos críticos para as montadoras.
Na última década, houve aumento da participação de capital estrangeiro nas empresas fabricantes de autopeças no Brasil. Este movimento ocorreu em linha com a reestruturação ocorrida na indústria automobilística nacional nos anos 90, que se tornou mais competitiva em termos de produtos e de processos. A partir da evolução da economia global, o mercado consumidor de veículos se tornou mais exigente e menos fiel às empresas ou marcas.
Este fator obrigou o setor a investir, constantemente, em inovação, na diminuição do ciclo de vida dos produtos e na customização de modelos segundo o desejo dos clientes. No entanto, é evidente que estas novas características do modelo de negócio do setor exigiram das empresas uma maior atenção para o gerenciamento logístico de sua cadeia mundial e para os processos de inovação e lançamentos no mercado. Neste novo cenário, o setor de autopeças é diretamente afetado por algumas tendências resultantes desta economia cada vez mais dinâmica e complexa.
Exemplo disso é o desenvolvimento da engenharia simultânea, que tem levado a uma crescente divisão de tarefas na criação e no desenvolvimento de novos modelos entre fornecedoras e montadoras. Esta tendência de descentralização das atividades tem como objetivo um aumento na flexibilidade do processo de inovação, buscando uma redução do tempo entre projeto e lançamento de novos produtos e uma maior customização dos veículos.
A opção das montadoras por concentrar suas atividades no desenho e no desenvolvimento do produto, na montagem e na distribuição dos veículos, tem resultado na redução da produção de componentes e sistemas por essas empresas. No entanto, alguns componentes considerados estratégicos tecnologicamente continuaram a ser produzidos pelas montadoras ou por empresas de seu grupo.
Apesar do forte impacto na cadeia de valor, o padrão de relação estabelecido entre as montadoras e as empresas fornecedoras de autopeças no Brasil ainda caracteriza-se por uma relação hierarquizada na coordenação da produção, cabendo às fornecedoras de autopeças o ônus da estratégia da competitividade. Pode-se dizer, que os laços de compromissos entre as duas partes continuam menos sólidos do que os estabelecidos entre as fabricantes de veículos em seus países de origem e seus fornecedores de autopeças.
Fonte: Agencia Estado
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