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Fabricantes de autopeças Brasileiros demitem e esperam ao menos sobreviver à crise

Publicada em 2015-03-31



Os fabricantes de autopeças terão que escolher qual caminho seguir a partir de agora, em meio a um cenário de demissões e estagnação das vendas de veículos. Principalmente pequenos e médios terão dificuldades para sobreviver a este período.

"Muitas destas empresas são familiares, têm dificuldades para se capitalizar e continuarão sofrendo pelo menos nos próximos dois anos", afirma o presidente da consultoria automotiva MA8 Management Consulting Group, Orlando Merluzzi.

Segundo o sócio do escritório Scheer & Advogados Associados, Mauro Scheer, até multinacionais têm enfrentado baixas devido à crise do setor. Um de seus clientes, fabricante do segmento de autopeças, demitiu 30% do efetivo neste ano.

"Esta empresa não consegue enxergar o fim da crise. Inclusive, os executivos dizem ter se arrependido do investimento no Brasil", afirma.

De acordo com o advogado, a crise de confiança que permeia o País se soma aos problemas políticos e econômicos. "Além dos custos com as demissões, estas empresas terão ainda que arcar com aumento da inflação, da tarifa de energia e do dólar", acrescenta Scheer.

Outro cliente do escritório acaba de demitir 15% dos seus funcionários. Fornecedora de componentes para montadoras, a empresa de capital nacional, assim como a multinacional, já havia tomado algumas medidas para se adequar ao arrefecimento do mercado automotivo.

"Geralmente, estas empresas começam com paradas e férias coletivas. Mas como a situação só piora, não resta outra opção se não reduzir o quadro", explica Mauro Scheer.

Segundo o advogado, de um lado o crédito continua escasso e do outro o índice de confiança do consumidor se mantém em queda. "Ainda que haja uma estabilidade política e econômica neste ano, talvez o segmento só apresente retomada em 2016", avalia.

Lógica perversa

Enquanto as montadoras demitiram cerca de 10 mil funcionários em 2014, o segmento de autopeças dispensou em torno de 19 mil pessoas no mesmo período. Proporcionalmente, o caso dos fabricantes de componentes é ainda mais grave, uma vez que possuem contingentes menores.

De acordo com o presidente da MA8, principalmente as empresas de menor porte sofrerão mais nesta crise. A grande maioria está nos níveis 2 e 3 da cadeia automotiva (tiers), responsáveis pela produção de componentes e pela metalurgia do setor.

"Boa parte da indústria de autopeças, no Brasil, está defasada e não tem feito investimentos como deveria. Muitas inclusive precisam se reestruturar para continuar operando", declara Merluzzi.

Recentemente, a gigante Bosch (sistemista e também fabricante de autopeças) voltou a afirmar durante um seminário que tem dificuldades para garantir que seus fornecedores locais dos tiers 2 e 3 consigam honrar com suas entregas, pois passam por sérias dificuldades financeiras. A empresa vem até investindo na capacitação de algumas das suas fornecedoras.

De acordo com Merluzzi, este é um momento crucial para que as empresas do setor invistam em produtividade. "Muitos dos fabricantes de autopeças precisam se profissionalizar. Esta é uma grande oportunidade para o País modernizar o seu parque industrial", avalia o executivo.

Alento

O segmento que deve sofrer menos em meio à crise deve ser o de reposição. Com o aumento do parque de veículos usados, os consumidores terão que continuar gastando com a manutenção dos veículos e a demanda de peças deve se manter ao menos estável.

"O after market tem caminhado um pouco mais imune à crise. Esta vai ser a área que deve sofrer menos com as turbulências dos próximos dois anos", pondera Merluzzi.

É o caso da Freudenberg Filtration Technologies, que fabrica filtros automotivos. No ano passado, a empresa cresceu 20% no after market e a projeção para este ano é de um crescimento em torno de 10%.

"Ao contrário de muitas empresas de autopeças, estamos admitindo funcionários. O segmento de reposição vai crescer por conta da manutenção do parque atual de veículos", afirma o gerente de mercado de filtros automotivos para América do Sul da Freudenberg, Carlos Matos.

Apesar de admitir que as projeções de crescimento da companhia em 2014 não se confirmaram, o executivo ressalta que a demanda por peças deve sustentar as empresas que atuam no after market.

Para o presidente da MA8, um nicho dentro do negócio de reposição deve ter ainda um desempenho melhor do que os outros, o chamado profissional (que inclui comerciais leves, caminhões e ônibus).

Segundo Merluzzi, estes veículos não podem ficar muito tempo parados para reparo. "O índice de atividade no segmento profissional é bem maior, o que garante demanda mais estável para o after market", pontua.


Fonte: DCI