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Exportação alivia crise das autopeças Brasileiras

Publicada em 2015-09-25



A depender do perfil da companhia, a escalada do dólar pode ser considerada uma notícia boa ou ruim em empresas da indústria automobilística. Para quem exporta, um dólar forte significa mais competitividade na disputa por mercados internacionais. Já quem exporta pouco ou nada, mas tem grande dependência de peças importadas para fabricar seus produtos, o significado é um maior custo de produção.

Por conta disso, montadoras e grandes sistemistas de autopeças - que tanto exportam, como importam insumos - estão trabalhando para, de um lado, ter maior gama de produtos à disposição de clientes no exterior e, de outro, ampliar o conteúdo local do que produzem. Nesse último caso, cumprem também uma demanda de nacionalização do Inovar-Auto, como é chamado o regime automotivo.
 
A Fiat e a Volkswagen, que vêm expandindo a oferta de modelos ao pujante mercado mexicano, bem como a Nissan, que vem desenvolvendo fornecedores para elevar o índice de peças nacionais dos carros produzidos em sua fábrica no sul do Rio de Janeiro, são exemplos dessa estratégia.
 
Da mesma forma, gigantes do setor de autopeças, como a alemã Bosch, estão atualizando suas linhas com a inclusão de produtos globais, que permitam a elas extrapolar as fronteiras do Brasil. Na outra frente, a também alemã Continental e a americana Eaton relatam ações de "localização" de componentes e consumo crescente de insumos nacionais diante do encarecimento das importações.
 
Com o tombo nos pedidos das montadoras, os fornecedores de autopeças se voltaram às exportações e ao mercado de reposição na tentativa de melhorar os resultados. Dados coletados até julho pelo Sindipeças, que representa essa indústria, mostram que, ao converter os resultados para reais, as fábricas de peças estão faturando 16% mais com exportações neste ano, enquanto as vendas pelo canal de reposição avançam 5,2%.
 
Entre os mercados mais importantes, o setor ganha espaço na Holanda, para onde a exportação, medida em dólares, cresce 34,2%, assim como nos vizinhos Peru e Uruguai, que aumentam as compras de peças brasileiras em 2,5% e 5%, respectivamente.
 
Na soma de todos os destinos, as empresas ainda registram queda de 12% no montante faturado em dólares. Mas a conversão cambial acaba resultando num resultado final positivo em moeda brasileira. Isso, contudo, não resolve totalmente a vida da indústria de componentes porque as encomendas das montadoras, que consomem 60% da produção de peças, despencaram. Até julho, o setor amargava queda de 12,6% no faturamento, com uma ociosidade que beirava os 40% da capacidade.
 
Mesmo assim, voltar aos mercados internacionais é um dos poucos caminhos possíveis para aliviar os efeitos da crise doméstica e isso começa a exigir das empresas uma produção mais orientada a demandas do exterior. Na Bosch, a recessão vem sendo encarada com um novo portfólio de peças fabricadas em processos mais automatizados - menos dependentes, portanto, de mão obra - e que podem ser embarcadas a mercados como o americano e o europeu, além dos tradicionais sulamericanos.
 
"Sem produtos globais, você não consegue fazer frente à crise", afirma o presidente da empresa na América Latina, Besaliel Botelho. Entre os produtos incorporados no processo de modernização da linha Bosch, ele cita como exemplo uma nova geração de bicos injetores, bobinas de ignição e sensores de oxigênio.
 
Apesar da necessidade de crescer para fora do Brasil, as companhias, entre pesquisas de mercado, desenvolvimento e validação de seus produtos no exterior, precisam percorrer um longo caminho, em prazos que giram ao redor de dois anos. Por esse motivo, Antonio Galvão, presidente da divisão de autopeças da fabricante de transmissões Eaton, diz que o primeiro impacto do dólar alto está no aumento das exportações dentro do próprio grupo. "Estamos complementando a produção de fábricas que fazem produtos similares nos Estados Unidos, no México e na Polônia. No passado, acontecia o contrário. Nós recebíamos muita produção da Ásia", diz o executivo.


Fonte: INDA