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Economia aquecida acelera setor de máquinas.
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Os cinco dias de negócios da Febramec 2010, em Caxias do Sul, terão papel semelhante ao de um termômetro ao aferir o nível de otimismo da indústria em relação ao futuro da economia nacional. Os resultados da feira devem indicar o quanto o setor de máquinas industriais está aquecido neste ano, e o quanto está sendo impulsionado pelo cenário de perspectivas positivas em relação ao mercado brasileiro.
Responsáveis pelas vendas dos equipamentos que serão empregados na ampliação da capacidade de produção dos demais segmentos industriais, fabricantes e importadores de máquinas já sabem que precisam de um ambiente de confiança no futuro para lucrar. Isso porque é somente quando há um mínimo de segurança em relação à expansão do mercado que a indústria de transformação vai às compras em eventos como a Febramec. E é essa corrida por novas aquisições que deve acontecer na feira, pelo menos no que depender das previsões das entidades ligadas ao setor.
A projeção é que o evento apresente vendas em alta, confirmando o cenário de avanço registrado no País ao longo do ano. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) indicam que o faturamento do setor no Brasil subiu 14,4% no primeiro semestre na comparação com o mesmo período do ano passado.
Para o fechamento do ano, a estimativa é de um crescimento entre 15% e 20%, de acordo com José Velloso, 1º vice-presidente da Abimaq. “É quando a indústria está crescendo que ela compra máquinas”, diz o dirigente.
Mesmo se confirmado, o resultado ainda estará longe do sonhado pelas empresas do setor, já que a expansão ocorre em relação ao ano de 2009, período em que o segmento encolheu 30% em função da instabilidade provocada pela crise financeira internacional. A meta é retornar aos patamares de 2008, ano de recordes no segmento. Mas isso deve ocorrer apenas em 2011, de acordo com Velloso, caso se concretize a previsão de aumento entre 7% e 10% nas vendas no próximo ano. “Há um ambiente mais propício ao investimento. O País deve crescer. Tudo isso é o que está alavancando e fazendo com que nosso setor cresça e volte em 2011 aos patamares de 2008”, reforça Velloso.
Para manter o ritmo da escalada, a Abimaq reivindica medidas do governo federal como a redução dos juros para a captação de capital de giro para a produção de máquinas e também a manutenção das vantagens previstas no programa Finame PSI, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes). Prorrogada até o final do ano, a iniciativa oferece taxas de juros de 5,5% ao ano no financiamento da compra de bens de capital.
Entre os importadores de máquinas, o momento também é de projeções positivas. A Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei) prevê crescimento de 50% nas vendas neste ano, chegando aos US$ 2,2 bilhões, resultado ainda inferior aos US$ 2,6 bilhões de 2008. “Estamos observando crescimento no primeiro semestre, essa recuperação é notória. O Brasil saiu da crise melhor (do que outros países), como todo mundo está dizendo”, afirma o diretor da Abimei, Daniel Dias de Carvalho.
Indústrias automotiva e de extração de óleo e gás comandam otimismo
As estimativas de alta do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro indicadas pela Pesquisa Focus, do Banco Central, do dia 23 de julho, refletem o ambiente que sustenta o clima positivo no setor de máquinas. O levantamento aponta para um crescimento na economia nacional de 7,2% em 2010 e de 4,5% em 2011.
José Velloso, 1º vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), afirma que a demanda é empurrada principalmente pelos setores de óleo e gás, agricultura e máquinas rodoviárias.
Na área de petróleo, o bom momento é capitaneado pelos planos da Petrobras, que, em junho, anunciou a meta de investir US$ 224 bilhões entre 2010 e 2014. A agricultura, por sua vez, ganha força com a crescente demanda por alimentos no mercado interno e nos países emergentes.
Já as máquinas rodoviárias pavimentam novos negócios no rastro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, das obras de preparação para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. “Os governos estão desengavetando projetos. Há bastantes obras e estão havendo investimentos”, comenta Velloso.
Daniel Dias de Carvalho, diretor da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei), destaca que o momento favorável da cadeia automotiva, que responde por 80% das importações, reforça as esperanças de recuperação. No primeiro semestre, as vendas de automóveis no País superaram a marca de 1,5 milhão de unidades, assinalando crescimento de 9% sobre o mesmo período de 2009, segundo números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O desempenho incentiva a expansão do parque produtivo do setor, que prevê US$ 11,2 bilhões em investimentos entre 2010 e 2012, na soma das 25 montadoras de veículos e máquinas agrícolas instaladas no Brasil. A projeção foi divulgada em maio pelo presidente da Associação, Cledorvino Belini.
As promessas de investimentos na indústria também começam a apresentar reflexos no nível de emprego entre importadores e fabricantes de máquinas. “Em 2010 já estamos conseguindo pensar em recontratar”, observa Carvalho.
Já nas indústrias brasileiras de máquinas, a retomada do emprego já começou. O setor fechou o primeiro semestre com 244.651 empregados no País, número que é 5,8% maior que os 231.248 de junho de 2009, conforme informações da Abimaq.
Competição incentiva inovação na produção
Apontada como um dos maiores exemplos da aplicação de tecnologias de ponta em automação industrial no Estado, a fábrica da General Motors em Gravataí é uma espécie de símbolo dos fatores que normalmente aceleram a criação de novas tecnologias para a indústria, como as apresentadas na Febramec 2010.
Os avanços na automação e mecanização industrial geralmente acontecem primeiro nos setores onde há acirrada competição entre concorrentes e cobrança por qualidade dos produtos, como é o caso do segmento automotivo. “A automação evolui mais onde qualidade e custo determinam a relação entre competidores”, analisa Ricardo Felizzola, coordenador do Conselho de Inovação e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) e sócio-fundador da Altus, empresa gaúcha especializada em automação industrial.
O empresário explica que a adoção de tecnologias de automação é vantajosa a indústrias de todos os portes e setores à medida que oferece maior repetibilidade no processo produtivo, garantindo a manutenção de um padrão de qualidade. Além disso, oferece a possibilidade de redução de custos, pois robôs, por exemplo, podem fazer uma linha de produção, ou parte dela, operar 24 horas por dia.
O Brasil está entre os países mais avançados na adoção e desenvolvimento de tecnologias de automação, de acordo com Felizzola. Sejam técnicas desenvolvidas dentro do País ou no exterior. Entre os destaques brasileiros estão os sistemas de controle de processos empregados na automação das estruturas de extração de petróleo utilizadas pela Petrobras.
O domínio desse tipo de tecnologia pode ajudar a economia brasileira, avalia o especialista, desde que os benefícios de redução de custos de produção sejam convertidos em uma ampliação da capacidade de investimento. “O Brasil tem uma capacidade de investimento limitada. É um país que gasta muito. Por isso, pode obter os ganhos da tecnologia”, argumenta Felizzola.
O corte nos custos é um dos motores mais importantes do desenvolvimento da automação, o que justificaria a evolução do segmento em países como Alemanha e Japão, onde a indústria sofre com o alto custo da mão de obra.
Mas não é apenas o custo que importa. Mundo afora, é crescente a adoção de programas de qualidade e produtividade que buscam a excelência na produção industrial. E é aí que entram os sistemas de automação. Atuam como incansáveis soldados da defesa da precisão da produção, formando um exército consagrado em setores como a aviônica. “O silêncio das turbinas de hoje se deve a esses softwares”, ressalta Felizzola.
Na busca pela perfeição, linhas de produção de fábricas de carros e aviões, por exemplo, assumem o papel de vanguarda no desenvolvimento tecnológico de seus setores. Este fenômeno, entretanto, não se repete na área de Tecnologia da Informação. Neste caso, as inovações aparecem primeiro nos bens de consumo, como celulares e computadores, para depois integrarem as rotinas de produção. “Nesse setor, as inovações estão no produto final. Apenas num segundo momento são utilizadas com mais rigor nas fábricas”, compara Felizzola.
Desafio é integrar gestão e automação
Com o amadurecimento do desenvolvimento e a adoção das tecnologias de automação e mecanização nas linhas de produção de diversos segmentos, a indústria de máquinas tem um novo desafio a vencer: acelerar a relação entre a rotina do chão de fábrica e os processos de tomada de decisão nos gabinetes dos administradores de uma organização.
A nova tarefa de empresas e pesquisadores é apontada por Vinicius Licks, professor da Faculdade de Engenharia da Pucrs. “É a integração entre a automação da fábrica e os softwares de gestão”, diz Licks.
O professor explica que ainda, em muitos casos, o que é feito é a automação de máquinas de forma individual. Para avançar em relação a esse patamar, é preciso interligar as máquinas em rede, o que muitas empresas já adotam. E, em uma terceira fase, é preciso fazer com que as informações relativas aos indicadores de desempenho da produção sejam vistas, em tempo real, pela direção da fábrica. “Com essas informações, a gestão acaba tendo uma visão mais apurada de custos de fabricação e de capacidade produtiva”, afirma Licks, lembrando que se trata de uma tendência que começa a ser aplicada no Brasil.
Outro rumo buscado pelos desenvolvedores da automação industrial também está relacionado ao manejo das informações geradas pelos equipamentos da linha de produção. “É a rastreabilidade, que significa enxergar cada produto individualmente ao longo do processo produtivo”, relata o professor.
Esse tipo de sistema oferece possibilidades de aperfeiçoamento nos controles de qualidade. Se um automóvel apresenta um defeito de fabricação, por exemplo, é possível identificar sua origem e em que momento ocorreu a falha durante a fabricação (do carro, na montadora, ou da peça, no fornecedor). “Geralmente as grandes montadoras já usam sistemas de rastreabilidade”, afirma Licks.
Nascidas nas grandes companhias, as tecnologias de automação tendem a ganhar espaço cada vez maior entre as médias e pequenas indústrias, de acordo com o professor. Ele acredita que o momento de expansão da economia deve representar o principal incentivo para esse tipo de modernização. “Acho que agora a gente está numa fase do País que permite às empresas fazer investimentos pensando no longo prazo. E a automação se encaixa neste momento”, prevê.
Fonte: Jornal do Comércio
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