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Uma década perdida da siderurgia

Publicada em 2015-11-27



Na estimativa do Instituto Aço Brasil, a produção de aço bruto no País sofrerá retração de 2% este ano, ficando em torno de 33,2 milhões de toneladas. Mas este não é o dado mais alarmante... A queda na venda de produtos siderúrgicos no mercado doméstico deverá ser de 16,3% em 2015, para 18,2 milhões de tons, mesmos níveis de 2006 (!).

A relação entre a produção e as vendas no mercado interno dá ideia do tamanho do problema para o setor. Há um abismo de cerca de 15 milhões de tons entre vendas e produção interna, que só pode ter dois destinos: (i) exportação e/ou (ii) formação de estoque. O câmbio ajuda no sentido de (i) no momento, mas, sabemos, o aço brasileiro depara dificuldade para competir mesmo no mercado doméstico, diante da crescente ameaça do produto chinês, vide o recente debate em torno de novas medidas protecionistas e aumento da taxação ao aço importado pelo governo brasileiro. 

Os principais mercados-alvo da indústria siderúrgica (linha branca, construção civil e mercado automotivo, entre outros) deparam desaceleração por aqui. Paralelamente, do lado operacional a indústria enfrenta pressão de custos crescente com a inflação de mão-de-obra e um resquício de alavancagem de anos seguidos de investimento em fontes de minério de ferro e carvão para diluir a base de custos - agora sobrou a dívida dos projetos no meio de uma inversão do ciclo das matérias-primas.

Na essência desse debate, sobressai o problema macro setorial do setor. Há um mar de capacidade ociosa, com desligamento de 40 unidades de produção no Brasil entre 2014 e 2015 e demissão de mais de 20 mil funcionários. Em nível global, há um excedente de capacidade da ordem de 700 milhões de toneladas, com produção atual em torno de 2,4 bilhões de tons, para um consumo na ordem de 1,7 bilhão de tons. Agravante: há aproximadamente 6 milhões de toneladas de capacidade adicional entrando apenas em projetos em andamento.

Isso, sem falar dos problemas internos (de governança e alavancagem) das companhias listadas do setor... Seguimos underweight com ações de siderúrgicas de forma geral.

Por: Alberto Altenhofen


Fonte: Empiricus