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O Mercado Siderúrgico Brasileiro Minguou
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O setor siderúrgico brasileiro está passando pela pior crise de sua história, em função das dificuldades políticas e econômica que o país atravessa. A produção de aço deste ano conseguiu ser menor do que o resultado obtido em 2014, totalizando 33,2 milhões de toneladas, conforme disse o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes. O cenário político-econômico nacional, segundo ele, foi determinante para que os setores automotivos, de construção civil e de máquinas e equipamentos – responsáveis por quase 80% do consumo de aço – registrassem sucessivas quedas em seus resultados. "O mercado doméstico minguou, destacando ainda mais as dificuldades que a indústria nacional já passa há muitos anos, de concorrer com os importados, devido ao conhecido Custo Brasil."
Para Marco Polo, estes números retratam a pior crise da história da indústria brasileira do aço, fruto da convergência de fatores estruturais e conjunturais que já levaram o setor a demitir mais de 21 mil trabalhadores no acumulado dos anos de 2014 e 2015 e paralisar 40 unidades de produção. E enfatizou que o mercado interno encolheu drasticamente, além de o setor estar sendo bombardeado por importações diretas e indiretas, numa configuração que acontece no mundo inteiro, em que os países se fecham contra o comércio desleal. As vendas internas de produtos siderúrgicos, segundo ele, também têm previsão de queda de 16,3% (18,2 milhões de toneladas), que é, conforme frisou, o mesmo patamar obtido em 2006. Isso sem mencionar que o consumo aparente de aço deve girar em torno de 21,4 mil toneladas, o que representa uma redução de 16,5% na comparação com o ano passado. Este resultado, para Marco Polo, leva o consumo aparente de aço ao patamar de 2007.
O executivo lembrou que os investimentos realizados pelas empresas do setor entre 2008 e 2014 totalizaram US$ 19 bilhões. Os recursos foram utilizados para manter o parque tecnologicamente atualizado. Com isso, afirma que o segmento está preparado para atender aos mercados interno e externo, desde que haja correção das assimetrias competitivas. "Embora o setor esteja estruturado para ser competitivo, depende de medidas emergenciais de defesa comercial e incentivo às exportações diante do atual cenário econômico do país e da guerra de mercado da siderurgia mundial." Em entrevista ao MONITOR MERCANTIL, Marco Polo fala sobre os problemas do setor, câmbio, alta do dólar e outros assuntos.
A crise econômica está tendo muito impacto no setor?
– De fato, repercute, porque a crise leva à queda do desempenho dos principais setores construtores. A crise leva a uma queda do PIB sob a ótica global e leva também a uma redução drástica das atividades, seja do setor da construção civil, automotivo e mesmo o setor de máquina e equipamentos.
Então, o segmento siderúrgico está passando por uma crise profunda?
– Não tenho dúvida nenhuma. O país passa por uma crise que tem um escopo muito mais amplo, político e econômico, e o setor siderúrgico vive a pior crise de toda a sua história.
Como é que o setor está analisando a taxa de câmbio?
– O dólar, quando se observa um movimento, tem que ser olhado sobre vários aspectos. Diria que, numa maneira geral, do endividamento em dólar, tem um grau de preocupação maior. Quem é importador tem uma preocupação diferente de quem é exportador. Mas, fundamentalmente, o importante é fazer uma avaliação criteriosa com o que se compara essa variação do dólar. De fato, houve um ganho para o real, por conta dessa escalada da moeda norte-americana, mas, quando se compara com o que foi, por exemplo, a desvalorização de outras moedas, dos nossos concorrentes em relação ao dólar, essa desvalorização foi muito mais intensa. A competitividade é relativa: nós ganhamos em relação ao dólar e perdemos em relação às demais moedas, primeiro ponto. Segundo, tudo que se ganhou em termos de competitividade pela pressão do dólar nós perdemos por conta da queda dos preços no mercado internacional.
A taxa de juros elevada está interferindo no setor siderúrgico?
– Com certeza absoluta. A coalizão capital/trabalho, que é dada com cinco centrais sindicais mais 40 entidades de classes, tem como pauta principal os juros. A ideia de se ter juros internacionais, ou seja, por razões bem equilibradas, um âmbito adequado, sem tanta oscilação, e o fim da volatilidade dos impostos, são propostas prioritárias.
Em sua opinião, o país tem ou não uma política para o setor siderúrgico?
– Não. Acho que no momento não existe essa política para o segmento. Eu diria que na indústria de transformação – em que a do aço se insere – não é por outra razão que se vê a perda da participação do setor no PIB, que era de 25% e hoje está abaixo de 10%.
Quais são os principais gargalos que o setor precisa resolver no curto prazo?
– Em caráter emergencial nós precisamos estancar essas importações que têm entrado no país por conta de práticas predatórias, que não são reconhecidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), são práticas vindas através de empresas estatais, subsidiadas, e a maior parte são chinesas. Então, fechar essa entrada. E no campo oposto, precisaríamos ter medidas efetivas que permitissem o melhor acesso das nossas empresas nacionais ao mercado internacional.
As investigações sobre corrupção na Petrobras afetaram a imagem do setor no mercado internacional?
– São coisas completamente diferentes. A Petrobras é uma grande empresas brasileira, que está passando por um processo que é público, e não me cabe aqui comentar, mas que leva também grandes empresas junto nesse processo de investigação. Toda uma área de construção, as empreiteiras... Esse processo, por um lado é importante e necessário, para apurar os ilícitos, mas paralisa também essas empresas. Diria, no momento, quando se olha a situação da Petrobras, a consequência é imediata. O segmento de óleo e gás no país está paralisado. E esse é um segmento importante. Então, acho que a ciência, que não é uma coisa simples, é conseguir avançar nas investigações, que são necessárias, punindo-se quem precisar. No entanto, não se pode fazer com que essas empresas tenham suas atividades reduzidas ou paralisadas.
Faça um balanço do desempenho do setor deste ano e previsão para o ano quem?
– O ano de 2015 foi muito difícil. Por todas as condições que nós já falamos, pela convergência dos fatores estruturais e conjunturais, 2016, infelizmente, não se apresenta de forma diferente, porque o mercado interno não tem nenhuma sinalização de recuperação. A nossa crença é que ele pode melhorar, se, de fato, o governo tomar as medidas que a gente vem defendendo, tanto no que diz respeito ao direito comercial como no acesso ao mercado.
Marcelo Bernardes
Fonte: Monitor Mercantil
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