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Parando as máquinas
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A produção brasileira de bens de capital — um dos principais indicadores dos investimentos realizados no país — encolheu 25,1% entre janeiro e novembro do ano passado. Já são 21 meses seguidos de queda em relação a igual mês do ano anterior e, nos últimos quatro deles, a perda na fabricação de máquinas, equipamentos e outros itens essenciais à retomada do crescimento econômico, passou dos 30%.
Os números, da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, são um retrato da crise na indústria como um todo, que também recua há quase dois anos. Só em novembro, a perda foi de 12,4% e, na comparação com outubro, foi de 2,4%. Com tantas perdas, o patamar de produção da indústria retrocedeu quase sete anos, ao nível de janeiro de 2009, durante a crise financeira internacional. E está 19,3% abaixo do pico, registrado em junho de 2013.
O ano de 2015 será o segundo seguido de recuo na atividade — as projeções apontam retração de até 8,3% — e nova queda é esperada para este ano, de até 4,5%. Cálculo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) mostra que, com a produção patinando há cinco anos, de 2011 para cá, a indústria perdeu 10,71% de sua capacidade.
— Temos a indústria de bens de capital, que cai há quase dois anos, mas, desde agosto, recua mais de 30%, ritmo de queda muito forte. Um período longo de retração de bens de capital é um indicador do que será a capacidade produtiva da indústria no futuro. Este é um aspecto bem negativo — afirma o economista Rafael Cagnin, do Iedi.
Com taxa de juros elevada e sem perspectiva de aumento de consumo, o empresário não tem estímulos para investir, explica o professor da PUC-SP Antônio Corrêa de Lacerda.
— Temos uma taxa de juros que dá retorno maior para as aplicações financeiras que para as atividades produtivas. Além disso, por que alguém faria investimentos se tem capacidade ociosa? — observa Lacerda.
Queda de 12,4% em novembro
O gerente de Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo, destaca a aceleração no ritmo de queda da produção de bens de capital ao longo de 2015. No primeiro quadrimestre, o recuo foi de 19%, passou a 26,1% no segundo quadrimestre e chegou a 31,7% no período de setembro a novembro.
— O recuo em bens de capital é mais intenso do que na indústria geral e aparece em todos os grupamentos, como bens de capital para construção, para transporte e agricultura, por exemplo. O resultado reflete a redução do nível de confiança do empresário em função da incerteza do ambiente econômico — avalia Macedo.
O mês de novembro foi marcado por recordes negativos na indústria. A queda na produção frente a novembro de 2014 foi a maior desde abril de 2009 (quando foi -14,1%) e a 21ª taxa negativa seguida na comparação anual. Em relação a outubro, foi o sexto mês consecutivo de redução, a maior desde dezembro de 2013 (-2,8%).
No ano (sem o dado de dezembro), a produção encolhe 8,1%, e, no acumulado em doze meses, o tombo é de 7,7%.
Além do cenário econômico como um todo, a surpresa de novembro foi o desempenho da indústria extrativa, que caiu 10,9% sobre outubro, influenciada pela queda na barragem de rejeitos da mineradora Samarco, em Mariana (MG), e pela greve dos empregados da Petrobras, que afetou não apenas a extração, mas também o refino de petróleo. O setor de produtos derivados de petróleo e biocombustíveis encolheu 7,8% na passagem do mês. A indústria extrativa responde por 11% da indústria geral.
— Novembro teve dois eventos que intensificaram a queda, mas a indústria manteve sua desaceleração, que, apesar de ser puxada pelo setor automobilístico, é muito disseminada e sem data para acabar — diz a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thais Marzola Zara.
A produção de veículos automotores caiu 35,3% frente a novembro de 2014 e foi a principal influência negativa para a indústria nesta base de comparação. Tanto caminhões — que são bens de capital — quanto automóveis — do grupo de bens duráveis — pressionam o resultado.
E o cenário não mudou em dezembro, quando a produção total de veículos foi 18,4% menor do que no mês anterior, segundo dados da associação das montadores (Anfavea). Na média de 2015, a fabricação despencou 22,8% , para 2,43 milhões de unidades, número que representa um retorno ao nível de produção de 2006. Essa desaceleração nas linhas de montagem engoliu 14.732 empregos e mandou outros 40 mil empregados para casa, por contratos suspensos (layoff ) ou pelo programa de proteção ao emprego (PPE), que reduz jornadas e salários. De acordo com a Anfavea, o setor encerrou o ano com 129,77 mil funcionários, mesmo nível de emprego de 2010.
— A crise de 2015 não teve precedentes — disse Luiz Moan, presidente da associação, para justificar a enxurrada de números negativos. SEM PEDIDOS, EMPRESÁRIO ZERA INVESTIMENTOS Que o diga José Carlos Nadalini, presidente da fabricante de engrenagens para caminhões e tratores Engrecon, em São Paulo. Com os pedidos minguando, a empresa registrou queda de 25% na receita em 2015, a maior desde a fundação, há 50 anos.
— Foi um ano terrível — resumiu José Carlos Nadalini, que precisou reduzir o quadro de funcionários de 165 para 130.
Em 2015, a taxa de ocupação da capacidade instalada da Engrecon caiu para cerca de 50%, e agora Nadalini diz que está “num esforço burocrático” para se enquadrar no PPE, que reduz a jornada com subsídio do governo, e evitar novas demissões. Perguntado sobre investimento, ele diz que a regra número um na empresa é controle total de gastos.
— Enquanto houver capacidade ociosa, não há por que investir — afirmou.
Junto com os veículos, a produção total de bens duráveis (inclui ainda os eletrodomésticos e eletrônicos) cai há 21 meses, frente a igual mês do ano anterior. E nos últimos meses, a freada ficou mais forte: de 27,7% em setembro, 28,5% em outubro e 29,1% em novembro.
Fonte: O Globo
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