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Gusa fechou 5.000 vagas. Setor sofre pior crise em 40 anos.

Publicada em 2010-08-15



A crise financeira mundial ficou no retrovisor da economia brasileira, mas para o setor de ferro-gusa, matéria-prima do aço, continua presente. Em Minas Gerais, foram perdidos 5.000 empregos diretos na indústria do gusa. Somente em Sete Lagoas, maior polo do Estado com 22 siderúrgicas, foram 2.200 demissões desde o início da crise, há dois anos. Na produção de carvão vegetal, que alimenta os alto-fornos de gusa, foram 10 mil postos de trabalho fechados. Os números são do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer) e do Sindicato dos Metalúrgicos de Sete Lagoas.

O presidente do Sindifer, Paulino Cícero, explicou que o mercado do ferro-gusa permanece em baixa devido à conjuntura internacional. "Europa e Estados Unidos não se recompuseram da crise, e tem a concorrência forte da Rússia e Ucrânia, que fazem ferro-gusa com carvão mineral, além da questão cambial", justificou o presidente do Sindifer.

Sem muita esperança na retomada do setor ainda esse ano, Paulino Cícero disse que está "rezando" para os resultados do quarto trimestre serem melhores do que os de até agora.
Quanto ao problema de Sete Lagoas, o presidente do Sindifer defendeu a verticalização do sistema produtivo, por meio da implantação de uma usina de aço no município. "Tem financiamento com facilidade para o aço, para o gusa é que não tem nem uma rapinha no BNDES, que não empresta para a gente", criticou Cícero, sobre a política de empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).

Parada. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sete Lagoas, Ernane Geraldo Dias, informou que dos 39 alto-fornos existentes em Sete Lagoas, apenas 17 estão funcionando. De acordo com Ernane, foram fechadas cinco empresas. Em julho, a Sicafe demitiu 130 funcionários. A Cosisa paralisou as atividades desde novembro de 2008 com a demissão de 230 funcionários. "A Barão de Mauá deu férias remuneradas no último dia 27 de julho, por 30 dias, para 110 pessoas, abafando o alto-forno dela", contou Ernane, sobre a última baixa. Outra que demitiu cem pessoas em julho foi a MGS Siderurgia.

A Siderlagos paralisou as atividades em dezembro de 2009 com a demissão de 140 funcionários e a Siderúrgica Veredas também encerrou as operações em dezembro do ano passado colocando outras 212 pessoas de volta ao mercado.

Para Ernane Geraldo, não há muito o que fazer em relação aos empregados demitidos. "A gente pode é tentar licença remunerada ou férias coletivas; ou produz gusa ou não tem mercado, é tudo com planejamento".

Sucata de aço é até 40% mais barata que ferro-gusa

A sucata de aço está de 20% a 40% mais barata que o ferro-gusa. Para o sócio da siderúrgica Maravilha (Simar), Maurício Santiago, essa é a pior concorrência que o setor pode sofrer. A tonelada do ferro-gusa vendida pela Simar custa R$ 720, além de ICMS e IPI. Para exportar, a tonelada sai a US$ 420 mais US$ 40, pelo frete. "No mercado externo o dólar está em baixa, tem os custos mais altos no Brasil e a sucata de aço está em oferta no mercado mundial", enumerou Santiago.

Apesar do mercado adverso, ele acredita na recuperação do setor neste ano. Com um alto-forno funcionando a plena carga, Maurício Santiago admitiu que o produtor de gusa depende do mercado externo. "Mas ele não está funcionando", confirmou. 

Setor sofre pior crise em 40 anos

Para o presidente da siderúrgica Siderpa, em Sete Lagoas, Afonso Henrique Paulino, essa foi a pior crise do ferro-gusa em 40 anos no mercado. “O setor tem muitas empresas em situação mais difícil, não dá para saber se ainda é este ano que vamos sair da crise”, disse.

A Siderpa também demitiu metade do pessoal, 200 funcionários ao todo. “O nosso problema cambial não nos faz competitivos com os outros países”, justificou o momento ruim do setor. Com um alto-forno trabalhando, a empresa manteve 160 pessoas em atividade.

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Sete Lagoas, a siderúrgica Insivi demitiu cem pessoas, mantendo 140 pessoas trabalhando, a Itasider demitiu 15 pessoas nesta semana, dos 240 funcionários e a Fergobras demitiu em junho de 70 a 80 funcionários. O salário de um trabalhador é, em média, R$ 700. (HL)


Fonte: O Tempo