Notícias

O alumínio também pode ser verde

Publicada em 2019-07-21



É nos arredores da cidade alemã de Dusseldorf, que a Hydro recicla a sucata de metal que vai dar origem ao que apelida de “alumínio mais verde do mundo”.

A tarde está a chegar ao fim e uma das três pilhas de sucata de alumínio, alinhadas no pátio da fábrica da Hydro, em Dormagen, diminui ao ritmo a que a grua faz mais uma descarga para o tapete que dá início ao processo de reciclagem. Depois de ser cortada uma primeira vez, a sucata será peneirada, rastreada de diversas formas, cortada de novo e rastreada uma vez mais, com o intuito de reduzir ao mínimo a presença de impurezas. O resultado final será um mínimo de 75% de alumínio, que seguirá para outras instalações em que será refundido, dando a origem a novos bilets que serão de novo convertidos em caixilhos e portas de alumínio, encerrando o ciclo. Isto, ao ritmo de 36 mil toneladas por ano, três mil toneladas por mês.

A Hydro – multinacional com sede na Noruega – tem como lema de desenvolvimento bigger, better, greener (maior, melhor e mais verde). “O desenvolvimento deste último campo tem que ver com a procura de soluções mais sustentáveis”, explica Lars Schwellinger, metal manager da Hydro Aluminium Recycling Deutschland. As pilhas de sucata de alumínio no pátio da fábrica são provenientes de janelas e portas em fim de vida, com origem em edifícios demolidos. “É assim que nós entendemos a reciclagem. Esta sucata é recolhida na Alemanha e também um pouco por toda a Europa”, explica Lars Schwellinger, para quem a utilização de sucata de produção – resultante do processo de fabrico de alumínio primário – não faz sentido quando se fala de reciclagem. Embora a Hydro também tenha sucata de produção, esta não é utilizada no fabrico da 75R, a liga de alumínio com origem em Dormagen.

Mineração urbana

A qualidade e as propriedades do alumínio não são alteradas pelo processo da reciclagem, o que faz que este seja considerado “eternamente reciclável”. Ao utilizar portas e janelas em fim de vida, a reciclagem não só reduz os resíduos mas também protege as matérias-primas primárias, num processo de economia cradle to cradle, que os responsáveis da Hydro já batizaram como “mineração urbana”.

A reciclagem do alumínio tem também vantagens ao nível das emissões de gases de efeito estufa, a refundição do metal requer apenas 5% da energia necessária para produzir alumínio primário e, por cada quilo de alumínio 75R, são produzidos cerca de dois quilos de CO2, um valor seis vezes inferior à média de produção de CO2 associada à extração primária de alumínio.

O projeto da criação da liga 75R começou a tomar forma em 2014, quando foi iniciado um estudo feito pelo estado alemão, a Hydro e os antigos proprietários da fábrica de Dormagen, que ali opera desde 2002. Depois da fase de testes e da aquisição pela Hydro das instalações de Dormagen, a produção do “alumínio mais verde do mundo” arrancou no ano passado. Hoje, a fábrica funciona das 08.00 às 22.00, em dois turnos, com a maioria dos 30 trabalhadores ligados à produção.

Por hora, são ali tratadas 12 toneladas de alumínio, com a triagem a ser feita de diferentes formas – raio X, ímanes, peneiras e correntes de ar quente – num processo inteiramente rastreável. Tanto a liga de alumínio como a própria sucata resultante do processo de reciclagem têm certificação ambiental. Questionado sobre a reação do mercado à nova liga de alumínio, Lars Schwellinger mostra-se confiante: “A reciclagem é o futuro – para todos! Nos próximos 25 a 30 anos, os produtos não reciclados vão ter cada vez menos procura.”

De referir que a Hydro Building Systems Portugal começou a divulgar a nova liga no início do ano e, embora não existam ainda obras adjudicadas com este sistema, a empresa garante que tem já “muitos projetos prescritos em 75R”. Também em Portugal há confiança quanto à aceitação pelo mercado. “Atualmente a nossa sociedade está alerta para os problemas como a sustentabilidade e procura soluções que sejam mais amigas do ambiente”, afirma por escrito o departamento de marketing da empresa. As expectativas são de que, daqui por um ano, 50% dos projetos da Hydro Building Systems Portugal sejam feitos em 75R. Entretanto, uma das duas marcas da empresa, a Technal, já disponibiliza produtos que são apenas produzidos com esta liga.



Fonte: dinheirovivo.pt