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Importação segura preço do aço.

Publicada em 2010-10-12



O dólar baixo está levando o setor siderúrgico brasileiro a reduzir seus preços. Depois de ameaçarem reajustes por causa da alta do minério de ferro - que chegou a subir 100% em abril - as siderúrgicas agora estão oferecendo descontos de 5% a 10% para baixar seus estoques. Com o volume de importação de aço mais do que dobrando, as usinas perderam poder de barganha na negociação com distribuidoras e clientes finais, como montadoras e fabricantes de eletrodomésticos. Analistas já preveem que a receita das siderúrgicas no terceiro trimestre será inferior à do segundo. Mas o consumidor sai ganhando: sem reajuste no custo do aço, diminui a pressão de alta para preços de carros, geladeiras e fogões.
 
Entre janeiro e agosto, o volume de aço importado somou 3,826 milhões toneladas, 155% mais que a 1,497 milhão de tonelada importada em igual período de 2009, segundo dados do Instituto Aço Brasil (IABr). Com isso, as importações responderam por 20% do consumo de aço no Brasil nos oito primeiros meses do ano. Em 2009, o percentual foi de 12%. E o instituto já está refazendo suas projeções para o ano. Deve elevar de 4,2 milhões de toneladas para 5 milhões de toneladas a estimativa do volume de aço importado, um recorde.
 
Com isso, num ano em que o consumo interno de aço também deve bater recorde - a projeção é de 25 milhões de toneladas - quem está se beneficiando são os concorrentes externos, em especial as siderúrgicas asiáticas. China e Coreia do Sul lideram as importações.
 
- O dólar vem se desvalorizando em relação ao real, e o yuan (moeda chinesa), por sua vez, vem se desvalorizando ante o dólar. É esse descompasso no câmbio o principal fator para a alta das importações - disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do IABr.

Excesso de estoque, freio na produção
 
Este ano, o dólar acumula queda de 3,16% frente ao real. Os recentes reajustes do minério de ferro, principal insumo para a siderurgia, criou a expectativa de alta nos preços siderúrgicos no Brasil. Isso levou distribuidoras e consumidores, como montadoras e fabricantes de eletrodomésticos, a comprar o insumo no exterior para fazer estoques. Nas distribuidoras, por exemplo, o nível de estoque em agosto era para quatro meses de abastecimento. E a tendência é que esse patamar tenha se mantido elevado em setembro, segundo o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço, Carlos Loureiro. Em março, os estoques estavam em 2,1 meses.
 
Esse quadro acabou minando o poder de barganha das siderúrgicas junto aos clientes. Em maio, empresas como Usiminas e CSN conseguiram reajustar seus produtos em 10% a 15% em média. Na ocasião, justificaram os aumentos com a alta de 100% do minério de ferro a partir de abril, quando o reajuste do insumo passou a ser trimestral. Até então, o produto era reajustado uma vez por ano. Em julho, o minério subiu mais 35%. E as siderúrgicas se apressaram em anunciar que repassariam o aumento. Mas, agora, em vez disso, estão oferecendo descontos. Usiminas e CSN, que atuam no segmento de aços planos - usados em eletrodomésticos e automóveis - estão entre as mais afetadas. Nenhuma delas comenta sua política de preços.
 
- As duas empresas estão dando 5% a 10% de desconto, dependendo do produto - afirmou Loureiro.
 
Nesta quinta-feira, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Usiminas caíram 5,34%, a maior queda do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, por causa de um relatório do Deutsche Bank que mudava sua recomendação para os papéis da empresa de "compra" para "neutra". O relatório destaca que preços domésticos mais baixos e a competição com o aço importado podem afetar os ganhos da Usiminas e também da Gerdau, segundo a agência Bloomberg. No início do ano, o aço nacional chegou a ser 30% mais caro que o importado. Mas, agora, com os descontos praticados no setor, os preços estão equivalentes.
 
Esse movimento já foi detectado nos índices de inflação. Em setembro, quando o IGP-M subiu 1,15%, o preço do aço no atacado caiu 1,45%, após sete meses de alta.
 
- Se a queda se mantiver, ela contribuirá para conter avanço nos preços de produtos como geladeira e fogão - avalia o economista Salomão Quadros, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
 
Com excesso de estoque, as usinas também estão reduzindo o ritmo de produção. Segundo o IBGE, o mau desempenho da siderurgia em agosto influenciou na queda de 0,1% produção industrial do país no mês.


Fonte: O Globo