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Importação se alastra e Governo continua a assistir passivo.

Publicada em 2011-06-10



Existe um ditado popular, segundo o qual o Brasil só começa a trabalhar, de fato, após o carnaval. - Esse ditado poderia ser aplicado a alguns políticos e governantes, mas não ao trabalhador comum, que labuta arduamente desde o início do ano.

A realidade é que muitas decisões importantes são adiadas para depois do final do reinado de Momo.

Servem também, para serem anunciadas, na sua véspera, medidas que não devam ser discutidas pelo Congresso ou, que não são muito auspiciosas.

O carnaval é um período de alegria e descontração. É uma trégua para o povo brasileiro cair na folia e esquecer um pouco dos problemas cotidianos, que certamente se acumulam no dia-a-dia.

Por alguns dias, durante o carnaval, nossos políticos e governantes saem de cena e da mídia e, também, como não são de ferro, aproveitam a ocasião para vestir suas fantasias e desfilar na avenida ou, curtir uma viagem às lindas praias do nordeste.

Nesse período que se segue ao carnaval pode-se fazer alguns "exercícios" relacionados à festa popular.

Vamos imaginar, por exemplo, alguns blocos carnavalescos que teriam feito muito sucesso e seriam acompanhados por uma presença maciça de foliões de todas as camadas da nossa sociedade, tais como:

- Banqueiros: "Empresário sem crédito, não reclame, se ligue, nossa grana está toda na Sslic (a taxa básica de juros)".

- Trabalhadores: "Dilma, vê se não berra, nós queríamos o mínimo do Serra".

- Banco Central: "Inflação, te esconjuro, prá te conter, só sei aumentar o juro".

- Comércio Exterior: "MDIC, vê se não importa, se o BC não mexe no câmbio pelo menos, fecha a porta". Só para lembrar, MDIC é o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

- Empresário: "Prá que produzir, sem incentivos e com a China, eu vou falir"

- Mercosul: "Acordo comercial com a Argentina, dura menos que confete e serpentina".

- Ministério dos Esportes: "Para o Morumbi, nenhum vintém, mas para os outros estádios, tem".

Base Aliada: "Parlamentar que vota contra o governo, não vem jantar e fica a ermo".

- Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo: " Sai fora do DEM, vem comigo, vamos achar um partido amigo".

- Presidente Dilma Rousseff: " Se não dá para usar o cacete e a vassoura, vamos apelar para a tesoura".

- Ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o antecessor de Dilma: "Daqui não saio, daqui ninguém me tira, sou bom de voto, bem melhor que o Tiririca".

- Povo brasileiro (todo): " Político, me engana, você com a mordomia, eu ferrado e sem grana".


Pena, que o Carnaval acabou. É hora de voltar à realidade e agir com seriedade.

Temos muitos problemas para resolver, como a inflação ameaçando sair do controle e o governo só utilizando o aumento de juros para combatê-la, a ausência de medidas que melhorem a competitividade do empresário nacional, o perigoso processo de desindustrialização, o esquecimento das reformas tributária, trabalhista e política, o famigerado custo Brasil que continua a atrapalhar e os escassos investimentos em saúde, educação, infraestrutura e logística, entre outros.

A importação está se alastrando por todas as cadeias industriais e o governo assiste passivo a invasão de produtos estrangeiros, principalmente da China, entre outras várias procedências.

Até a Argentina deita e rola no Mercosul, desrespeitando acordos e impondo restrições crescentes às exportações brasileiras.

Para reverter esse quadro, faz-se necessário, urgentemente, a implementação de uma política industrial capaz de reverter com eficácia este quadro adverso, que deverá ser combinada e complementada com ações de políticas monetária, cambial e fiscal.

Por falar em política fiscal, o corte orçamentário de R$ 50 bilhões anunciado recentemente, além de não ser suficiente, deveria ser mais qualitativo.

Em outras palavras, é necessário estabelecer as prioridades e ficar centrado mais na diminuição das despesas de custeio do governo e também na redução dos gastos com a máquina estatal.

Será que os mentores da política econômica se esquecem, ou fingem que não se lembram, do impacto dos constantes aumentos das taxas de juros primários (que voltaram a crescer na última reunião realizada pelo Copom) e do custo do aumento das reservas, nos encargos e ampliação da dívida pública?

Basta lembrar que para cada ponto percentual de acréscimo da taxa básica de juros Selic, a despesa com juros aumenta a bagatela de R$ 17 bilhões.

Também não se pode esquecer que a diferença entre o custo e a aplicação dos recursos para carregamento das reservas internacionais, que já superam os US$ 300 bilhões, é superior a 10% ao ano.


Não é mais racional adotar outros mecanismos de política monetária para combater a inflação, do que ter de cortar recursos do orçamento, sem efeitos práticos e prejudicando ainda mais os gastos públicos?

A sociedade brasileira carente do atendimento de suas necessidades básicas, de saúde, educação, habitação, saneamento, segurança e outras, fica desprotegida e relegada a segundo plano, os banqueiros nacionais e os investidores externos agradecem, sorriem e aplaudem de pé.

Nota da Redação: Esta notícia foi originalmente publicada no DCI em 14/03/11, mas o assunto continua atual.


Fonte: DCI