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Caminhonete de alumínio é a melhor notícia para metalúrgicas desde 1970.

Publicada em 2014-01-13



A nova caminhonete F-150 da Ford Motor Co., o primeiro veículo de grande porte a ter toda sua estrutura construída com alumínio, está se tornando a melhor notícia possível para a problemática indústria de metais desde que as latas de cerveja de aço foram substituídas pelas de alumínio, nos anos 70.

A Alcoa Inc. e a Novelis, as duas maiores produtoras de lâminas de alumínio dos Estados Unidos, investiram cerca de US$ 1 bilhão em 2013 nas suas fábricas no país que produzem metal para o setor automotivo.

Na nova e reluzente fábrica da Novelis às margens do Lago Ontário, ouve-se o barulho das longas tiras de alumínio passando por um forno, e depois sendo resfriadas, no processo que torna o metal resistente o suficiente para ser usado na nova F-150, o veículo mais vendido dos EUA.

A Novelis, uma unidade da indiana Hindalco Industries Ltd., está gastando US$ 550 milhões na adaptação de suas fábricas na Alemanha, China e Oswego, no Estado de Nova York, para produzir alumínio para automóveis. A Alcoa está expandindo fábricas no Iowa e no Tennessee, projetos que juntos valem US$ 575 milhões. Ambas afirmam que outras montadoras estão seguindo o exemplo da Ford. Isso pode ajudar os seus negócios, afetados pela baixa nos preços do alumínio bruto, que caíram mais de 30% desde seu pico de 2011.

É uma aposta. O alumínio pode ser mais leve que o aço, mas é cerca de três vezes mais caro. Fazer carros inteiros de alumínio exige um conjunto completo de equipamentos para estampar partes dos veículos e para a linha de montagem. O alumínio, por exemplo, não é magnetizado e assim não pode ser deslocado por enormes ímãs ao longo das fábricas. Em vez disso, ele tem de ser erguido e puxado por bombas a vácuo.

A Ford e outras montadoras enviam engenheiros para empresas de alumínio com frequência para resolver problemas. A F-150 é o veículo mais rentável e de maior porte da Ford. A empresa não quer ter longos atrasos de produção ou problemas de durabilidade. A Ford, que não admitiu publicamente o lançamento ou qualquer detalhe sobre a picape, incluindo o uso de alumínio, alongou o cronograma normal de produção para evitar adiamentos constrangedores. Espera-se que a montadora anuncie oficialmente a caminhonete esta semana, durante o Salão do Automóvel de Detroit, dizem fontes.

Até agora, os únicos veículos feitos inteiramente de alumínio são carros de luxo caros, como o Audi A8 e o Jaguar XJR, apesar de componentes como os blocos de motores e as rodas serem feitas de alumínio há muito tempo. Mas, para cumprir as metas de economia de combustível, a Ford está optando por uma caminhonete feita inteiramente de alumínio.

Especialistas dizem que uma redução de 10% no peso de um veículo permite a instalação de transmissões menores e contribui para uma economia de 7% de combustível. A Ford espera eliminar quase 320 quilos do modelo existente, que pesa 2,3 toneladas.

O diretor-presidente da Alcoa, Klaus Kleinfeld, disse em outubro que a expansão do mercado de carrocerias de alumínio, "de veículos de luxo para a produção em massa de veículos de grande porte", vai gerar "oportunidades enormes". Estima-se que sejam necessários pouco mais de 400 quilos de alumínio para construir toda a carroceria de uma caminhonete, comparado a 680 quilos de aço, segundo Lloyd O´Carroll, um respeitado analista de metais. As montadoras não divulgam a quantidade de metal em seus respectivos veículos.

"Isso é revolucionário", diz O´Carroll. O mercado de lâminas de alumínio para o setor automotivo é hoje de US$ 300 milhões por ano. Segundo ele, se outros veículos passarem a ser feitos todos de alumínio, esse valor pode superar US$ 7,5 bilhões em 2025, uma dádiva para uma indústria marcada pelo excesso de oferta e preços baixos.

Mas isso depende de muitas coisas. Lakshmi Mittal, diretor-presidente da ArcelorMittal, a maior siderúrgica do mundo, juntou-se com a japonesa Nippon Steel & Sumitomo Metal Corp. para comprar uma fábrica de última geração no Alabama, dizendo que era "ideal para a produção de aços avançados de alta resistência", que podem competir com o alumínio no mercado automotivo. O ex-executivo da Alcoa Mario Longhi foi nomeado diretor-presidente da U.S. Steel, em grande parte por causa de seu conhecimento sobre o metal rival. Em meados do ano passado, a U.S. Steel e a Kobe Steel Ltd. abriram uma nova fábrica em Leipsic, Ohio, projetada especificamente para concorrer com o alumínio.

As siderúrgicas chamam a atenção para as vantagens do aço em relação ao alumínio. Além de ser mais caro que o aço, o alumínio é difícil de soldar. Hoje, as partes dos veículos feitas de alumínio são unidas com adesivos e rebites, o que requer grandes mudanças na linha de produção. Altos executivos da indústria do aço dizem que se trata de um processo complicado comparado ao da soldagem de avançadas peças de aço de alta resistência. "Não é tão simples mudar de um material para outro", diz Ron Krupitzer, vice-presidente do Instituto de Desenvolvimento do Mercado do Aço, um grupo americano de pesquisa financiado pela indústria.

A Novelis, que se recusou a discutir clientes específicos, informou que vende metais usados em 180 veículos das principais montadoras americanas. A fábrica de Oswego, que produz placas de alumínio e chegou a destinar 80% de sua produção a fábricas de latas, fornecerá o metal para os capôs e as portas da F-150, dizem pessoas a par do assunto. O alumínio para motores, rodas e outras partes será produzido por outros fabricantes.

Tom Boney, vice-presidente da Novelis para o setor automotivo e ex-gerente da fábrica de Oswego, diz estar pronto para fazer as mudanças necessárias para a indústria automobilística. "À medida que ampliarmos a produção de certos modelos, surgirão alguns problemas e temos que estar abertos a todos os ajustes que precisarem." Boney diz que engenheiros de Detroit visitam Oswego quase todos os dias.

Lingotes de cerca de 20.400 quilos, o suficiente para fazer um milhão de latas de cerveja ou sete carros, são aquecidos a cerca de 1.000 graus Celsius e passados entre dois enormes rolos compressores para se transformar em lâminas. O processo é o mesmo, não importa se o produto final é um carro, lata ou computador, diz o técnico Peter Losurdo. Apenas a química muda. Um carro todo de alumínio deve conter 15 tipos diferentes de ligas de alumínio. E elas geralmente contêm mais cobre e silício, o que as torna mais fortes e mais flexíveis. (Valor Econômico/The Wall Street Journal/John W. Miller e Mike Ramsey).


Fonte: Valor Econômico