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Queda da demanda na China derruba mercados da Ásia e abala commodities.
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Os sinais crescentes da queda na demanda da China por matérias-primas estão preenchendo as lacunas deixadas por dados econômicos obscuros e provocando uma onda de venda da moeda chinesa e de ações de empresas do país, além de queda nos preços dos produtos que ele compra em massa, como carvão, cobre e minério de ferro.
A venda generalizada abalou os mercados da Ásia ontem. O índice Nikkei Stock Average, da bolsa japonesa, caiu 2,6% - o maior declínio em mais de um mês - e o yuan, negociado livremente fora da China continental, recuou para seu menor nível em oito meses.
'O crescimento está diminuindo, os riscos aumentando e acho que isso provavelmente levou a uma recalibragem dos portfólios', diz Matthew Sherwood, chefe de pesquisa da Perpetual Investments, em Sydney, que administra 29 bilhões de dólares australianos (US$ 25,9 bilhões). 'A China passou de salvadora do mundo a um dos elos mais fracos na corrente.'
Negociadores de minério de ferro estão em compasso de espera e o produto está se acumulando nos portos da China, já que as siderúrgicas hesitam em aumentar os estoques diante da queda nas exportações e do aperto no crédito. Os preços do cobre recuaram em vista dos receios de que as empresas inundem o mercado com o metal para liquidar operações arriscadas.
Na província de Shandong, o porto Grand Canal Northern, que no seu auge costumava despachar quatro balsas carregadas de carvão por dia, cada uma pesando até 3.000 toneladas, hoje libera apenas duas e recebe menos pela carga. 'As coisas agora não estão boas. Os preços do carvão simplesmente não estão estáveis', diz Meng Fanqiang, o gerente do porto.
A bolsa da China, uma das que tiveram o pior desempenho no ano até aqui, com queda de 5,6%, despencou ontem para seu menor patamar em quase oito meses. O índice Xangai Composto fechou com baixa de 0,2%, para 1997,69 pontos, depois de ter caído durante o dia para 1974,38, a menor cotação desde 30 de julho de 2013.
'O pessimismo está permeando cada canto do mercado de ações no momento', diz Tangyue Yanglin, consultor sênior de investimento da corretora Everbright Securities.
O yuan se desvalorizou ainda mais em relação ao dólar, perdendo 0,1% ontem e 1,5% no acumulado do ano. O declínio é uma reversão de anos de valorização contínua, que culminou com uma alta de 2,9% em 2013.
Os preços do minério de ferro já recuaram 6% nesta semana, diante da apreensão dos investidores com a oferta crescente e a demanda fraca. O declínio nas exportações e os aumentos tanto nos estoques de minério de ferro nos portos da China como nos de aço fabricado geraram receios de que os preços poderiam sofrer uma depressão prolongada, diz Kash Kamal, analista da corretora Sucden Financial em Londres. Logo, 'os usuários finais estão segurando suas compras imediatas, esperando uma queda maior', diz.
Já o cobre prolongou um recuo que já dura quatro dias, caindo mais 3,2% em Xangai e chegando a uma perda de quase 15% no ano. O preço do carvão coque de alta qualidade da Austrália, por sua vez, caiu 2,4% ontem e acumula baixa de 13% no ano.
As preocupações com a China se intensificaram no fim de semana, após o governo divulgar uma redução de 18,1% nas exportações de fevereiro ante o mesmo mês de 2013, resultado bem pior que o aumento de 5% que os economistas previam, na esteira de um avanço de 10,6% em janeiro. A China também registrou um raro déficit comercial no mês passado, de US$ 22,98 bilhões.
Os dados econômicos da China são geralmente distorcidos no começo do ano devido ao longo feriado do Ano Novo Lunar, que conforme o ano pode cair em janeiro ou fevereiro. Os temores foram acentuados neste ano por uma desaceleração no crescimento em 2013, ocorrida em meio a iniciativas do governo para reformar a economia.
O grande debate entre analistas é se o governo chinês vai interferir caso a desaceleração persista. 'O equilíbrio entre crescimento e reforma logo será testado', diz Minggao Shen, responsável pela área de pesquisas do Citigroup na China. O governo parece inclinado a defender o crescimento através de 'um remédio chinês mais suave, não uma cirurgia radical', diz.
A onda mais recente de vendas de ativos foi provocada por receios de que outra empresa chinesa estaria em dificuldades financeiras. As ações da Baoding Tianwei Baobian Electric Co., uma fabricante de equipamentos para geração de energia que nos últimos anos fez apostas equivocadas no setor solar, caíram 5,1%, o limite de queda diária, e as negociações de seus títulos de dívida foram suspensos pelos segundo dia consecutivo.
Os problemas da Baoding Tianwei ampliaram as preocupações com a situação do sistema financeiro da China, depois que a Shanghai Chaori Solar Energy Science & Technology Co., uma empresa de médio porte do setor de energia solar, tornou-se na sexta-feira passada a primeira companhia chinesa a deixar de pagar um título de dívida no mercado local.
Tim Condon, economista da ING, diz que a falta de transparência nas políticas financeiras da China sempre deixou os investidores ansiosos. 'O humor em relação à China definitivamente azedou e isso leva à questão de por que é tão fácil acentuar o [aspecto] negativo dessa indústria', diz.
Embora a iniciativa recente do governo chinês de provocar a desvalorização do yuan seja considerada por muitos uma tática para conter o excesso de capital especulativo, sua tolerância a um suprimento extra de moeda local inundando o sistema financeiro também é vista como uma medida de estímulo.
'Quando se trata de juros interbancários baixos, não sabemos o que os responsáveis pelas políticas estão pensando', diz Condon.
A taxa de recompra de sete dias, uma referência para os empréstimos de curto prazo entre os bancos, caiu ontem para 2,23% ao ano, contra 2,26% na terça-feira, seu nível mais baixo desde maio de 2012, quando atingiu 2,17%.
Os investidores estão esperando a divulgação, hoje, dos dados da produção industrial e investimentos em renda fixa. Economistas estimam que a produção industrial subiu 9,5% em janeiro e fevereiro.
Fonte: Valor
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