Notícias

A agonia da indústria brasileira.

Publicada em 2014-07-10



Desde 1947, ano em que se iniciou o acompanhamento do impacto da indústria no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, nunca tivemos uma tendência tão negativa como a que o mercado visualiza. Naquele período, a contribuição foi de 11%. Nossa vocação econômica ainda era a agricultura numa fase pós Segunda Guerra Mundial.

Nos anos 1960, o Brasil abriu as fronteiras para as multinacionais instalando as montadoras de veículos e autopeças. Com isso, a participação subiu para o patamar de 15%. O impacto foi tremendo e acelerou a construção de rodovias e sistema viário, por exemplo a Via Anchieta. Outra grande contribuição foi a fundação de Brasília, o que desenvolveu a construção civil. O milagre brasileiro da década de 1970 trouxe grandes investimentos em infraestrutura, como a usina de Itaipu e a ponte Rio/Niterói entre outras, elevando a participação da indústria acima de 25%.

Com a crise do petróleo, a economia mundial entrou em recessão, gerando imenso impacto no Brasil, desestabilizando a economia e o câmbio, levando o País à hiper-inflação, reduzindo o consumo e, consequentemente, a produção. Assim, teve início o processo de demissão em todos os setores produtivos.

Os anos 1980 – a chamada década perdida – trouxeram danos irreversíveis para nossa indústria, que começou viagem por uma montanha russa, com picos e vales e trajetória de declínio do PIB. Simultaneamente ao crescimento acelerado dos Tigres Asiáticos, o mercado mundial foi invadido por produtos made in Japan, Korea and China, que mudaram o eixo produtivo para a Ásia. Com a qualidade questionada, os produtos geraram competição desigual com a indústria local.

Muitas vezes, os itens foram subsidiados e colocados a preços que o segmento industrial não podia competir. O resultado dessa política de abertura de mercado transformou nossa indústria produtiva e geradora de empregos em simples importadora de itens asiáticos. Setores como têxtil, informática, veículos e autopeças, entre outros, foram duramente afetados pela concorrência algoz com nosso setor produtivo. O Grande ABC sofreu forte impacto gerado pela competição, não somente do mercado externo, mas também pela guerra fiscal. Houve evasão dos investimentos da indústria automobilística, que migraram para outros Estados, atraídos por incentivos fiscais.

Durante décadas, o pronto-socorro governamental, com ações de emergência, como oferecer renúncia fiscal por pequenos períodos, manteve a tão sofrida indústria nacional viva, porém, entre a UTI e a unidade de atendimento permanente. Isso acontece devido a nossa inabilidade de desenvolver política industrial sustentável e de longo prazo que permita o renascimento de nossas virtudes, produtividade, agilidade e inovação.

Países como Coreia do Sul e China há 50 anos importavam tudo, até mesmo do Brasil, produtos como caminhões, equipamentos, autopeças. Agora, passamos a ser fornecedores de matéria-prima e importadores dos produtos industrializados. Com isso, geramos empregos e previdência aos trabalhadores locais. A indústria, assim, também perde espaço, atingindo 13% de participação no PIB de 2013 com previsão para este ano de 11%.


Fonte: Diário do Grande ABC