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Venda de máquinas está em colapso no Brasil

Publicada em 2014-08-19



Recém-empossado como presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o empresário Carlos Pastoriza ressalta que o segmento vive um momento difícil. A expectativa é de que o faturamento do setor caia entre 10% a 15% nesse ano frente aos R$ 80 bilhões movimentados em 2013. Para ele, a conjuntura econômica pouco favorável aliada ao chamado Custo Brasil faz com que “as vendas estejam entrando em colapso”. Mesmo assim, o dirigente confia que o quadro pode ser revertido nos próximos anos. Pastoriza veio ontem a Porto Alegre para se reunir com empresários gaúchos do setor de bens de capital mecânicos e representantes locais dos setores metalmecânico e eletroeletrônico.

Jornal do Comércio – Quais são os desafios do setor nestes próximos quatro anos? 
Carlos Pastoriza
 – Temos anos muito desafiadores pela frente. Nesta equação macroeconômica que o País se encontra hoje, a indústria de transformação está na ponta perdedora. Ao contrário de outros setores, nossos produtos são facilmente importáveis e exportáveis, então você não tem uma barreira natural como o setor de serviços ou a construção civil possuem. Você não consegue importar apartamento da China, mas pode trazer uma máquina de onde você quiser. A isso se soma o fato de que somos, por definição, uma indústria de cadeia longa. Até se chegar à máquina, por exemplo, passa-se por sete ou oito estágios de transformação. O minério de ferro vira barra, que vira chapa, que depois dobra e vira uma peça, que depois vira um conjunto e aí se torna uma máquina. Em cada um desses estágios, o Custo Brasil incide. Então, somos muito mais afetados por tributos, câmbio ruim e juros altos. É necessário fazer um ataque sem trégua a todos esses componentes do chamado Custo Brasil.

JC – Esse é um dos momentos mais difíceis para o setor? 
Pastoriza 
– Estamos vivendo um dos momentos mais delicados em, pelo menos, 20 anos. Jamais houve uma conjugação tão nefasta de fatores, como o câmbio subvalorizado, que encarece os nossos custos e barateia a importação. Hoje em dia, qualquer industrial se tiver a ideia de buscar a melhor tecnologia do mundo, vai colocar na planilha os custos e verá que terá um custo 30% mais caro do que na Europa. Isso, principalmente por causa do câmbio

JC – Mesmo o câmbio consolidado em um patamar acima de R$ 2,00 nos últimos dois anos não trouxe melhoras para o setor na exportação? 
Pastoriza 
– Olha, é que lá atrás estava pior ainda. O cálculo que fazemos é outro. Basta você voltar a 2001, na época do Fernando Henrique (Cardoso) na presidência, que era quando tínhamos um saldo positivo na balança comercial (da indústria). Naquela época, o câmbio era igual ao de hoje, em torno de R$ 2,30 cada dólar. Nesses 13 anos, o câmbio subiu e desceu, mas agora está no mesmo patamar de antes. Só que a inflação aumentou quase 100%. Isso significa que os custos aumentaram significativamente. E não há choque de inovação que compense. A nossa defasagem é brutal. Não há como um país como o nosso aumentar o PIB per capita sem que haja industrialização. Não vai ser exportando minério de ferro ou soja que vamos enriquecer. Não tenho nada contra a exportação de commodities. Os Estados Unidos exportam muitas commodities, mas são uma potência industrial. Nós, com juros altos que atraem capital especulativo e mantêm o câmbio desfavorável, estamos matando a indústria de transformação. O pessoal da indústria extrativa está bem e tira de letra o Custo Brasil, pois os preços das commodities explodiram em dólar. E a construção civil também não vai mal, pois eles têm uma proteção natural, já que ninguém vai importar casa da China. Aí eles jogam o Custo Brasil nos preços dos imóveis. Já a indústria de transformação está sendo destroçada. Se isso não for revertido rapidamente, vamos condenar o Brasil a ser um país colônia e não uma potência, pois só vai exportar commodities e importar tudo que for transformado.

JC – De que forma a própria indústria de transformação pode agir para reverter isso? 
Pastoriza 
– As empresas precisam fazer a sua revolução interna. Um programa de modernização do parque fabril brasileiro é fundamental. O maquinário das indústrias brasileiras tem uma idade média de 17 anos, o que é horrorosamente velho. Na Alemanha, a média do parque fabril é de seis anos. Os alemães estão trabalhando de uma forma muito mais automatizada e veloz que os brasileiros. Por isso, a competitividade do trabalhador alemão é quatro vezes maior que a do brasileiro. Cerca de 60% da produtividade de uma fábrica tem a ver com a modernidade dos equipamentos disponíveis ao trabalhador.

JC – Qual seria o investimento necessário para indústria modernizar seu maquinário? 
Pastoriza 
– Em termos de custo de reposição de maquinário em todo o parque fabril brasileiro vale R$ 1,6 trilhão, sendo que 30% disso tem mais de 20 anos de idade. São equipamentos obsoletos. Já conversamos com a presidente Dilma Rousseff e a nossa proposta é de que se faça um programa com oito anos de duração chamado Modermaq, para substituir esse maquinário ultrapassado. Seriam necessários investir R$ 560 bilhões para substituir esses 30%. Nós queremos um programa no qual quem tem equipamento velho faça o descarte em um centro homologado pelo governo. Depois a empresa iria ao fabricante de máquinas e o governo daria crédito fiscal (para abater de impostos federais) equivalente a 15% do valor do equipamento novo. Além disso, pedimos uma linha de financiamento mais agressiva que o PSI-Finame. Se o governo fizer essa iniciativa estimamos que, em oito anos, metade dos equipamentos com mais de 20 anos serão trocados, totalizando R$ 280 bilhões em troca de maquinário no período. Isso daria um choque de produtividade, que impactaria em, pelo menos, 1 ponto percentual a mais no PIB do País por ano. Já soubemos que o governo está preparando um programa semelhante a esse, que está sendo finalizado.

JC – Mesmo com a conjuntura delicada, o empresário industrial iria investir em maquinário nesse momento? 
Pastoriza 
– Tem razão. Nenhum empresário compra equipamento porque está barato, ele tem que enxergar esse ganho de produtividade. Acreditamos que, no começo, a participação seria mais tímida. A adesão a esse programa vai aumentar conforme o Brasil faça seu dever de casa e o PIB cresça. Com o PIB crescendo e o Custo Brasil baixando, o empresário vai estar incentivado a trocar o equipamento velho pelo novo.

Confiança do empresário industrial para de cair pela primeira vez em cinco meses

Pela primeira vez em cinco meses, a confiança do empresário industrial parou de cair. Segundo números divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) ficou em 46,5 pontos em agosto, apenas 0,1 ponto percentual acima do nível registrado em julho.

Apesar da melhora, os empresários continuam receosos em relação à economia brasileira. Os valores do Icei variam de 0 a 100. Indicadores abaixo de 50 pontos revelam falta de confiança do empresário. Nos últimos 12 meses, o Icei continua a apontar deterioração das expectativas do setor industrial. Em agosto do ano passado, o indicador tinha ficado em 52,5 pontos. Em relação à média histórica, a disparidade ainda é maior. Desde agosto de 2011, o índice costuma registrar 57,4 pontos mensais.

Segundo a pesquisa, a confiança é menor na indústria de transformação, que registrou Icei de 45,2 pontos. O índice ficou em 48,2 pontos na indústria de construção e superou 50 pontos somente entre os empresários da indústria extrativa (50,2 pontos). Entre os 27 setores da indústria de transformação, somente as indústrias farmacêutica, de alimentos e de bebidas registraram confiança em relação à economia do País. Nos três segmentos, o índice ficou acima de 50 pontos.

Em relação ao tamanho das empresas, a falta de confiança é generalizada. O melhor índice foi registrado nas grandes indústrias, com 47,5 pontos. Mesmo assim, o indicador permaneceu abaixo de 50 pontos. O Icei alcançou 46,5 pontos nas pequenas indústrias. Nas médias empresas, a falta de confiança é maior, com índice de apenas 44,7 pontos. O CNI fez o levantamento entre 1 e 12 de agosto com 2.763 empresas de todo o País, das quais 1.056 são de pequeno porte, 1.049 são médias e 658 são de grande porte. A CNI não revelou os motivos da falta de confiança, apenas perguntou aos empresários se eles estão otimistas com a economia do País.

Fernando Soares 


Fonte: Jornal do Comércio