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Sistema tributário sucateou a indústria Brasileira, afirma Abilio Diniz

Publicada em 2014-08-29



A indústria brasileira foi sucateada pelo sistema tributário e não será mais o vetor do crescimento econômico. A declaração é do empresário Abilio Diniz, presidente do conselho da BRF, que participou ontem de encerramento de fórum sobre o setor do varejo na América Latina. O comentário ocorre no momento em que o fantasma da recessão permeia o setor industrial. E afirmou que o novo presidente, quem quer que seja, terá de olhar para o sistema tributário.

— Dizer que a indústria foi sucateada pelo câmbio, inflação, taxa de juros, não tem nada disso. Ela foi sucateada pelo sistema tributário — disse Diniz. — O Brasil tem vocação muito mais para comércio e serviços, e agribusiness. Claro que nós temos de dar condição para a indústria se renovar, mas sem imaginar que ela será o carro-chefe da economia. É importante ter uma indústria forte, mas ela não vai ser a locomotiva da economia.

O empresário lembrou que a atividade industrial tem minguado a cada ano. Ele citou que, há dez anos, o setor representava 17% do PIB nacional e hoje representa 11%. Para comparar, ele lembrou que o comércio é responsável por 33% das riquezas geradas em território nacional.

— A Receita Federal nos trata como delinquentes. E o Brasil perdeu seu momento industrial. Perdeu o timing.

Novo Investimento

Às vésperas de completar um ano fora do Grupo Pão de Açúcar, o empresário disse ainda que pretende voltar a investir no setor de distribuição de produtos. A ideia, segundo contou à plateia de 440 pessoas reunida no fórum, é investir no segmento por meio de um projeto de private equity administrado por sua holding, a Península.

— Devo fazer alguma coisa dentro da Península neste campo de distribuição.

Em maio deste ano, depois de se desfazer de 7,9 milhões de ações do Pão de Açúcar, as últimas que restavam em seu poder, por R$ 825 milhões, Diniz voltou a adquirir ações da rede francesa Carrefour. Ele já vinha comprando pequenos lotes da varejista francesa e, com a nova investida, teria elevado sua participação para quase 3% do capital.

Uma proposta de unir o Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil, em 2011, quando ainda comandava o grupo fundado por seu pai, levou à ruptura com o também francês Casino. Por contrato, o Casino, que já tinha 50% do capital do Pão de Açúcar, assumiria o controle da operação em 2012. Sem diálogo com Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, Diniz renunciou à presidência do Conselho de Administração e apressou sua saída do Pão de Açúcar, consumada em setembro de 2013.

Ao trocar suas ações ordinárias (com direito a voto) por preferenciais do Pão de Açúcar, Diniz conseguiu a suspensão da cláusula de non compete do contrato com o Casino, pela qual ficaria impedido de voltar ao varejo ao deixar o grupo. E deixou o caminho livre para retornar ao setor em que sempre atuou.


Fonte: O Globo