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Custo alto inviabiliza setor de ferroligas no Brasil
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As indústrias eletrointensivas do parque siderúrgico, como as de ferroligas, são as mais afetadas pelo alto custo da energia. Com o contrato vencido no fim do ano passado, grande parte das empresas está descontratada e teve que parar a produção por falta do insumo. Vários trabalhadores do setor já foram demitidos nos últimos meses.
O alto custo da energia assusta uma série de empresários do setor que, em breve, pagarão um valor muito maior para utilizar o insumo e poderão ter a atividade até mesmo inviabilizada. Dez das 12 empresas do setor de ferroligas já tiveram o contrato, fechado há dez anos com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), vencido. Nos casos mais extremos, os fornos foram desligados e, em outros, a produção foi reduzida até que haja uma solução.
Todas essas empresas tinham assegurado o insumo por um período de dez anos, que se encerrou em dezembro. Elas pagavam cerca de R$ 70 o Megawatt (MW) para a Cemig. Mas quando foram renegociar um novo contrato, a proposta apresentada pela concessionária foi de preços girando em torno de R$ 380 o MW. O problema é que pagar quase cinco vezes mais pela energia é algo inviável economicamente para as indústrias, uma vez que a participação da energia nos custos de produção é superior a 30%, o caso, por exemplo, da Granha Ligas. As unidades da empresa localizadas em São João del-Rei e em Conselheiro Lafaiete, no Campo das Vertentes, foram afetadas pela alta do insumo. Na primeira, a produção foi reduzida em 70%. Mas na segunda, foi totalmente paralisada. Isso significa que a produção de ligas de manganês do grupo em Minas Gerais despencou de 3 mil toneladas mensais para 500 toneladas mensais. Como reflexo, 230 trabalhadores foram demitidos em um ano.
Segundo o presidente da empresa, Fernando Granha, o preço ideal seria em torno de R$ 130 o MW. “Com certeza é uma crise o que estamos enfrentando. O setor de ferroligas é muito importante para o parque siderúrgico. O que vai acontecer se não houver nenhuma intervenção é que será preciso importar insumo para produzir aço. O Brasil perde com isso”, afirma.
A Bozel, que é uma das maiores produtoras de cálcio silício do Ocidente com sede em São João-del Rei e unidade operacional na França e Estados Unidos, vive hoje a mesma situação. Teve que desligar todos os fornos por falta de energia. Depois de demitir 25 trabalhadores, a empresa fez o acordo com o sindicato de manter mão de obra apenas na manutenção dos equipamentos. Porém, caso não haja uma definição até março, as atividades serão totalmente encerradas, com o corte de 280 funcionários.
Exportação - “Os impactos do fechamento de uma empresa como a Bozel não é somente nos empregos diretos. Perdem também nossos fornecedores, que são muitos. Além disso, como exportamos parte da produção para Japão, Estados Unidos e Europa, somos fomentadores de divisas para o país”, afirma o diretor administrativo-financeiro da empresa, Fernando Neri de Araújo.
Caso seja necessária a paralisação geral das atividades da empresa, o temor é que não haja uma retomada. Isso porque pode haver uma perda do vínculo com os clientes e fornecedores, o que dificultaria voltar ao patamar atual. Além disso, segundo Araújo, mesmo que houver uma negociação, qualquer alta que tiver já significará redução na produção. “Se o preço não for o equivalente ao que pagamos agora, não vamos voltar com 100% da produção. Estimamos que um terço dela não terá retorno. As demissões então vão continuar até que nos adequemos. Esperamos que o governo intervenha para evitar uma ruptura e minimizar os impactos sociais previstos”, afirma.Prefeitos mineiros pedem ajuda à Abrafe.
Diante da dificuldade do setor de ferroligas em renovar os contratos de energia, foi iniciada uma negociação coletiva junto à Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Vários prefeitos procuraram a Associação Brasileira dos Produtores de Ferroligas e de Silício Metálico (Abrafe) em busca de ajuda.
A proposta que a associação levará à Cemig é que seja feita a renovação dos contratos sem alteração das condições ajustadas no primeiro momento por três anos. Ou seja, a alteração dos preços de R$ 70 o megawatt para R$ 380 o MW deveria ser adiada. Durante esse período, o setor teria a competitividade garantida enquanto fontes alternativas seriam estudadas.O prefeito de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, Helvécio Reis, foi um dos que procurou a Abrafe. “Tomei essa atitude porque três empresas que temos do setor na cidade me procuraram. O impacto do fechamento dessas empresas seria muito grande em termos de redução de postos de trabalho e da arrecadação”, afirma.
As três empresas que entraram em contato com o prefeito foram Bozel, Granha Ligas e Ligas Gerais. O impacto seria grande porque 45% da arrecadação do município é proveniente do setor industrial, com forte participação do segmento de ferroligas.
A prefeitura de Pirapora, no Norte de Minas, também procurou a Abrafe. Segundo a sua assessoria de imprensa, o setor metalúrgico gera 1.350 empregos diretos e 415 indiretos em três indústrias: Companhia Ferroligas Minas Gerais (Minasliga), Ligas de Alumínio S/A (Liasa), Inoculantes e Ferroligas Nipobrasileiros (Inonibrás).O impacto do desligamento de fornos no município foi a demissão de 411 trabalhadores em 2014. Com isso, foi totalizado o corte de 1.121 pessoas na microrregião que inclui Várzea da Palma e Buritizeiro.
Segundo a Abrafe, a indústria de ferroligas e de silício metálico gera receita de R$ 8,7 bilhões ao ano para o país com exportações da ordem de R$ 4,5 bilhões. O segmento responde por 7% da balança comercial brasileira. O setor atua em pequenas e médias cidades do interior. A associação estima que o segmento represente mais de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) desses municípios. Em todo o país são gerados 80 mil empregos diretos e indiretos pelo segmento.
Fonte: Diário do Comércio
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